Islão-Mulheres: coexistir enquanto mulher, muçulmana e feminista, uma abordagem interseccional. Um estudo exploratório de uma revolução sexual

Abstract

Observa-se a religião, o Islão em particular, como secular e, por isso, incompatível com o feminismo. No feminismo mainstream ainda existe um vazio para que o pluralismo possa ecoar livremente, uma vez que dificilmente tem a religião como uma questão identitária importante e apenas a aborda de forma superficial. O feminismo islâmico encontra então na interseccionalidade uma porta para se apresentar. As mulheres muçulmanas veem-se em duas caixas das quais procuram urgentemente sair: a ideia externa de um padrão de mulher muçulmana oprimida pela religião e o conflito de ensinamentos e práticas tradicionais seculares que insistem num contexto social que já não existe, o da revelação na Arábia do século VII. Face à crescente presença de comunidades muçulmanas na Europa, e nomeadamente em Portugal, bem como ao consequente crescimento da Islamofobia, a presente pesquisa procura explorar e compreender se é possível existir a junção de dois conceitos complexos como feminismo e Islão, considerando o feminismo islâmico como ponte para futuras investigações dentro da temática. Esta investigação permite afirmar, como premissa inicial, a existência de um Islão equitativo, em que homens e mulheres são tidos como individuais e não superiores um em relação ao outro, no entanto, as interpretações feitas dos textos sagrados têm todas elas o mesmo em comum: são feitas por homens, em sociedades e comunidades ainda patriarcais. Partindo desta evidência, o feminismo islâmico contribui com releituras femininas e feministas dos mesmos. Desta forma, assumir-se mulher muçulmana e feminista, tanto no mundo ocidental como no oriental, ainda que soe contraditório, gere discórdia e seja um caminho complexo, é necessário e viável.

Religion is conceived, especially Islam, as being secular and therefore not compatible with feminism. Mainstream feminism still exhibits a gap for pluralism to resonate freely, as it rarely considers religion as an important aspect of identity and only addresses it superficially. Islamic feminism thus finds in intersectionality a way to present itself. Muslim women find themselves in two boxes from which they urgently seek to escape: the external idea of a Muslim woman oppressed by her religion and the conflict of traditional secular teachings and practices that insist on a social context that no longer exists, that of Islam’s emergence in the 7th Century Arabian Peninsula. Given the growing presence of muslim communities in Europe, particularly in Portugal, as well as the consequent rise of Islamophobia, this research seeks to explore and understand whether it is possible to combine two complex concepts like feminism and Islam, considering Islamic feminism as a bridge for further investigation in this field. This investigation allows us to affirm, as an initial statement, the existence of an equitable Islam, where men and women are seen as individuals and not as superior to one another. However, the interpretations of sacred texts share a common trait: they are made by men in communities and societies that remain patriarchal. Based on this evidence, Islamic feminism contributes with feminist reinterpretations of these texts. Thus, identifying as a Muslim woman and a feminist, whether in the Western or Eastern world, although it may seem contradictory and a complex path, is both necessary and viable