Utilize este identificador para referenciar este registo: http://hdl.handle.net/10362/121653
Título: Imagens de Poder: Animais exóticos na cultura de corte em Portugal no Renascimento
Autor: Simões, Catarina Anselmo Santana
Orientador: Buescu, Ana Isabel
Palavras-chave: Animais extra-europeus
Estudos de corte
Idade Moderna
Propaganda imperial
Relações entre humanos e animais
Percepções sobre a natureza
História natural emblemática
Non-European animals
Court studies
Early Modern Period
Imperial propaganda
Human-nonhuman animal relationships
Perceptions of nature
Emblematic natural history
Data de Defesa: 1-Jun-2021
Resumo: No início do período moderno, a exploração da costa africana pelos europeus e o estabelecimento de rotas marítimas directas entre a Europa, a Ásia e a América conduziram a um incremento do consumo de mercadorias e produtos extra-europeus, que se tornaram num importante elemento do quotidiano nos ambientes cortesãos. Entre estes, os animais exóticos contavam-se entre os que eram cultural e politicamente mais relevantes. O envolvimento pioneiro da Coroa portuguesa no processo da Expansão europeia e no estabelecimento de redes de comércio, influência e poder imperial garantia-lhe um acesso privilegiado a estes animais exóticos, que os monarcas de Avis depressa incorporaram nas suas estratégias de propaganda política e na construção das suas imagens de poder pessoal e dinástico. Os animais extra-europeus vivos e os seus subprodutos eram uma parte significativa das mercadorias de origem natural que eram importadas, sendo, por isso, essenciais para o contacto europeu com as realidades naturais extra-europeias, e para a construção do conhecimento sobre a natureza. Mas para além de mercadorias transacionáveis e objectos de conhecimento, estes animais também eram mantidos em cativeiro em ménageries reais e exibidos em cerimónias públicas, onde funcionavam como símbolos de poder imperial e monárquico; e circulando entre diversas cortes no contexto de uma “economia da dádiva”, mediavam relações diplomáticas e políticas entre soberanos, transpondo por vezes fronteiras culturais, religiosas e civilizacionais. O importante papel que animais selvagens extra-europeus desempenharam na construção da memória política dos monarcas portugueses dos séculos XV e XVI deve ser compreendido no quadro de uma tradição antiga e medieval, em que a reunião deste tipo de animais, a sua exibição pública, e o seu uso como presentes diplomáticos eram práticas universalmente identificadas com o exercício da soberania. Para além de evidenciarem o controlo humano sobre o mundo natural, estas práticas também sinalizavam o controlo dos soberanos sobre populações e territórios, em particular em contextos imperiais. Na corte portuguesa do Renascimento, o seu significado político era evidente, remetendo directamente para os projectos e pretensões imperiais da Coroa, e garantindo-lhe um papel como mediadora no acesso de outras cortes europeias a alguns destes animais, como elefantes e rinocerontes. Estas práticas também se encontravam relacionadas com a forma como a natureza extra-europeia, e em particular os animais, eram percepcionados. Cada animal podia evocar múltiplas associações e significados, que justificavam a sua apropriação como um símbolo de identidade. Assim, os animais exóticos desempenhavam uma função cultural crucial na percepção e representação europeia do mundo extra-europeu; mas podiam, também, funcionar como emblemas de qualidades, virtudes e vícios humanos. Esta tese tem como objectivo analisar a utilização política destes animais à luz das múltiplas funções que desempenhavam e dos diversos significados que encerravam, procurando interagir com algumas questões centrais da historiografia mais recente que se debruça sobre as relações entre humanos e animais não-humanos. Neste sentido, é importante referir que as percepções sobre estes animais e a sua instrumentalização por parte dos humanos, eram não raras vezes influenciadas e condicionadas pelas interacções directas que se estabeleciam, questão que não deve ser descurada.
In the beginning of the early-modern period, European exploration of the African coast and the establishment of direct maritime routes between Europe, Asia and the Americas led to a significant increase in the consumption of non-European commodities. Among these, exotic animals were some of the most culturally and politically relevant. Through its early involvement in the European expansion and the establishment of networks of trade, influence and imperial power, the Portuguese Crown had a privileged access to these exotic animals, which Portuguese kings quickly incorporated in their strategies of political propaganda and in the construction of their political and dynastic identities. Live exotic animals and their processed body parts formed a significant part of the natural commodities imported from other continents, making them essential elements for the construction of knowledge on non-European nature, and for the European experience of distant places. But besides being objects of trade and knowledge, these animals were also kept in royal menageries and exhibited in public ceremonies, where they functioned as symbols of imperial power. And through gift-giving practices, they circulated between courts, mediating diplomatic and political relations, and sometimes crossing cultural, religious and civilizational boundaries. The important role that wild non-European animals played in the construction of the political memory of Portuguese monarchs of the 15th and 16th centuries must be understood as part of an ancient and medieval tradition, in which keeping, exhibiting and sending these animals as diplomatic gifts were practices universally identified with kingship. Besides testifying human control over the natural world, these practices also signaled the sovereigns’ control over populations and territories, especially in imperial contexts. At the Renaissance Portuguese court, they recalled the Crown’s imperial activities and agenda, and secured its role as a mediator in the access of other European courts to some of these animals, such as elephants and rhinoceroses. These practices were also related to European perceptions of non-European nature and animals. In the Renaissance, each animal could evoke multiple associations and meanings, which justified its appropriation as a symbol of identity. Therefore, exotic animals were instrumental to the perception and representation of the non-European world in general; but they could also function as emblems of human qualities, virtues and vices that were projected onto them by humans. This thesis analyzes the political use of exotic animals and the multiple functions and meanings associated to them, while engaging with some issues of current animal studies historiography. In this sense, it should not be disregarded that human perceptions of these animals and their political appropriation were often influenced and conditioned in diverse ways by the animals themselves, and the direct interactions between them and the humans in whose lives they participated.
URI: http://hdl.handle.net/10362/121653
Designação: Doutoramento em História, especialidade em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa
Aparece nas colecções:FCSH: DH - Teses de Doutoramento

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