Guerra Viva, Guerra Justa, Guerra Brasílica: A Gênese Militar do Brasil na Historiografia dos séculos XVI e XVII, na Historiografia Militar Brasileira e na Nova História Militar

Abstract

O projeto de ocupação e manutenção da América portuguesa demandou dos portugueses um projeto único, que foi se desenvolvendo através de constantes e criativas adaptações para superar os hercúleos obstáculos que se sucediam: rebeliões de nativos; invasões externas de menor e maior porte; corsários. O sucesso desse empreendimento foi possível graças a adaptação das forças militares portuguesas aos desafios do trópico. A necessidade e a criatividade propiciaram um recrutamento singular, valendo-se dos braços disponíveis: mestiços, nativos e negros escravos; além de um sofisticado sistema de recompensas que impulsionava cada conquista. O Exército Brasileiro, utilizando-se da representatividade de um dos eventos militares mais relevantes da América portuguesa, a Batalha de Guararapes, instituiu a união de brancos, negros e índios para a expulsão dos holandeses, como o “mito de criação”, não só daquela Instituição, como também do sentimento nacionalista brasileiro. Partimos dessa premissa para investigar sua autenticidade na historiografia militar da América portuguesa escrita nos séculos XVI e XVII. Todavia, novas linhas de investigação surgidas deste estudo inicial nos encaminharam para buscar outras narrativas – como a visão dos historiadores franceses e holandeses sobre aqueles episódios; bem como as narrativas sobre os dois primeiros séculos da América portuguesa - escritos após esse período. O estudo comparado de versões tão divergentes da história nos direciona a questionar o intuito de cada historiador ao criar sua narrativa, atendendo aos interesses ideológicos, materiais e culturais de seu tempo. Conhecer a diversidade dessas narrativas enriquece a discussão sobre a origem da nacionalidade brasileira, bem como sobre apluralidade de povos que a constituíram. Entender essa pluralidade pode nos levar a buscar políticas de inclusão para a solução dos problemas nacionais, aproximando vertentes hoje tão divididas política e socialmente. Este é o objetivo e a relevância deste trabalho.

The project of occupation and maintenance of Portuguese America demanded from the Portuguese a unique project, which was developed through constant and creative adaptations to overcome the herculean obstacles that followed one another: native rebellions, minor and significant external invasions, and privateers. The success of this venture was possible thanks to adapting the Portuguese military forces to the challenges of the tropics. Necessity and creativity provided a unique recruitment, taking advantage of the available arms: mestizos, natives, and enslaved Black people, and a sophisticated system of rewards that boosted each achievement. The Brazilian Army, using the representativeness of one of the most relevant military events of Portuguese America, the Battle of Guararapes, instituted the union of whites, blacks, and Indians to expel the Dutch as the “myth of creation” from that institution and the Brazilian nationalist sentiment. From this premise, we investigate the myth authenticity in the military historiography of Portuguese America in the 16th and 17th centuries. However, new lines of investigation arising from this initial study led us to look for other narratives – such as the view of French and Dutch historians on those episodes and narratives about the first two centuries of Portuguese America - written after that period. The comparative study of such divergent versions of history directs us to question the intention of each historian when creating their narratives, meeting the ideological, material, and cultural interests of their time. Knowing the diversity of these narratives enriches the discussion on the origin of Brazilian nationality and the plurality of peoples that constituted it. The purpose and relevance of this work are to understand this plurality, which can lead us to seek inclusion narratives bringing aspects that are so politically and socially divided today.