Autos da alma : os guiões de ficção do cinema português entre 1961 e 1990

Abstract

0 presente trabalho é o primeiro resultado de um programa de investigação que, embora iniciado há vários anos, está longe de terminar. Esse programa visa estudar como, na sociedade portuguesa das últimas três décadas, se escreveram certos textos destinados a serem filmados, quais as suas características e relações com a cultura contemporânea. Como horizonte, pretendo contribuir para a compreensão do cinema português e, com ele, da própria sociedade portuguesa e do seu imaginário. Ou seja, trata-se de um trabalho de crítica da cultura, que não pretende dar conta individualmente dos actos criativos, antes visa compreender como comunicam uns com os outros e com os seus contextos. Como escreveu Guy Scarpetta2, «deixou de ser possível, nos dias de hoje, tratando-se de arte, atermo-nos a um discurso estreitamente especializado. (...) É impossível considerar o cinema, por exemplo, sem reflectir na ligação contraditória, conflitual, que ele mantém com a literatura ou a pintura». No fundo, o que há a reconhecer é que a condição (e a situação contemporânea) da arte obrigam a pensar os fundamentos da divisão do trabalho a que estamos habituados, levando-nos assim para o campo das relações sociais e filosóficas, cujas implicações não devemos temer. Uma crítica da cultura não deve, pois, satisfazer-se isoladamente nem com o mundo de um autor ou de um texto, nem sequer com um campo de actividade e respectiva reflexão teórica^, antes procura pensar a arte no espaço, amplo e complexo, da reflexão filosófica e científica contemporânea.