Avaliação da introdução da vacina contra a tosse convulsa durante a gravidez e dos factores de risco para a doença na ARS Lisboa e Vale do Tejo : dois estudos de caso-controlo e um estudo ecológico

Abstract

RESUMO - Introdução: Desde 2000 registou-se um aumento significativo de notificações por tosse convulsa em Portugal, motivo pelo qual a OMS considerou existir um padrão de reemergência da doença no país. A maioria dos casos corresponderam a crianças com menos de 6 meses, pelo que em 1 de Janeiro de 2017 a vacina materna foi introduzida no PNV como medida preventiva deste problema de saúde pública. Objectivos: Estudar os potenciais factores de risco para a doença em 2016, estimar a efectividade da vacina materna contra a tosse convulsa e avaliar o impacto desta medida na incidência de casos de tosse convulsa antes (2016) e após (2017) a sua introdução no PNV. Métodos: Delinearam-se de três estudos observacionais: dois casos-controlos e um ecológico. No estudo de caso-controlo para investigação dos factores de risco para a tosse convulsa incluíram-se casos de crianças com menos de 2 meses de idade, notificados entre 15.07.2016 e 31.12.2016. Para cada caso seleccionaram-se 2 controlos sem diagnóstico de desta doença, da mesma faixa etária e utentes no mesmo centro de saúde dos casos. Foi realizada a análise através do cálculo de Odds Ratio brutos e ajustados. No estudo de caso-controlo para estimar a efectividade vacinal incluíram-se notificações de casos de crianças com menos de 6 meses, utentes do SNS na ARSLVT, sem primovacinação completa, entre 01.01.2017 e 31.12.2017. Aplicou-se a metodologia supracita para a selecção de controlos. Através de uma regressão logística múltipla condicional calculou-se o Odds Ratio da vacina materna bruto e ajustado. A efectividade vacinal foi calculada pela fórmula: 1 – Odds Ratio da vacinação materna. O estudo ecológico analisou as faixas etárias dos 0-2 meses e dos 2-6 meses, entre 01.01.2016 e 31.12.2017, através do cálculo das taxas de incidência da doença e determinou a Razão da Taxa de Incidência entre o período pós e pré a introdução da vacina no PNV (2016 e 2017). Resultados: No 1º estudo utilizou-se uma amostra com 66 crianças (22 casos e 44 controlos) e verificou-se que a existência de mais crianças no agregado familiar aumenta o risco de doença. No 2º estudo de caso-controlo foram incluídas um total de 96 crianças (32 casos e 64 controlos). Estimou-se uma efectividade vacinal bruta de 79% (IC 95%, 35-93%) e ajustada de 95% (IC95%, 65-99%). No estudo ecológico, observou-se uma redução de 82% na incidência de tosse convulsa no grupo dos 0 aos 2 meses de idade e uma redução de, aproximadamente, 40% na faixa dos 2 aos 6 meses no ano seguinte à introdução da vacinação materna. Discussão: Os resultados apontam para uma efectividade vacinal elevada e um claro impacto da vacinação materna durante a gravidez na incidência da doença. Antes da introdução desta medida , o número de crianças conviventes destaca se como factor de risco para a doença.

ABSTRACT - Introduction: A pattern indicating the resurgence of pertussis was identified in Portugal since 2000. The majority of the notified cases occurred in children aged less than 6 months of age. For that reason, the introduction of the maternal vaccine during pregnancy was decided. It was officially included in the National Vaccination Plan on January 1st 2017 has a preventive measure. Objectives: Investigate the risk factors for whooping cough in 2016, estimate the effectiveness of the maternal pertussis vaccine during pregnancy in the region of Lisbon and Tagus Valley in the first year after its’ introduction (2017) and to evaluate its’ impact in infants with less than 6 months of age. Methods: Three retrospective observational studies were planned: two matched case-control studies and an ecologic study. The 1st case-control study collected the confirmed pertussis cases aged less than 2 months between 15.07.16 and 31.12.2016. The cases were obtained from the regional records of SINAVE. Two controls with the same age and followed in the same health center, without pertussis diagnosis, were selected to pair with each case. Simple and adjusted Odds Ratio were estimated. The 2nd matched case-control study included the notified cases of pertussis aged less than 6 months, without priming vaccination completed, residents in the Lisbon and Tagus Valley Region, between 01.01.2017 and 31.12.2017. The cases and the controls were selected and matched with the same methodology mentioned above. A multiple conditional logistic regression was used to calculate the Odds Ratio. Vaccine effectiveness was estimated using the formula: 1-Odds Ratio. The ecologic study intended to evaluate the impact of the maternal vaccine in infants without priming vaccination started (0-2 months) and without priming vaccination completed (2-6 months), in the year before (2016) and after its’ introduction (2017) by estimating the incidence rates and its’ ratio. Results: The 1st matched case-control included 22 cases and 44 controls and showed that the existence of more children in the same household was found to be significant in disease transmission. A total of 32 cases and 64 controls were obtained in the 2nd matched case-control study. The unadjusted vaccine effectiveness estimate was 79% (95% CI, 35-93%), while adjusted was 95% (95% CI, 65-99%). In the ecologic study, a reduction of 82% in the incidence of pertussis in infants aged less than 2 months was obtained, while in children aged between 2-6 months it was estimated in 40% after the introduction of maternal vaccination, in 2017. Discussion: The findings of this study indicate a considerable im pact in the incidence of the disease and the existence of high vaccine effectiveness. Household contacts were found to be the most important risk factor for the diagnosis of whooping cough.