Utilize este identificador para referenciar este registo:
http://hdl.handle.net/10362/51116| Título: | Nem só de pão vive o homem: a escrita como cuidado |
| Autor: | Rodrigues, Raquel Luís Botelho |
| Orientador: | Costa, Paula Cristina Anghel, Golgona |
| Palavras-chave: | Escrita Ócio Doença, Luto Prisão Writing Care Sickness Grief Prison |
| Data de Defesa: | 30-Jul-2018 |
| Resumo: | A experiência estética pode constituir uma forma de resposta de um corpo a um acontecimento que lhe provocou sofrimento, uma ruptura da harmonia, crise de sentido. À perda de memória, decorrente de um AVC, que abriu um vazio, um período branco, vivido, posteriormente, como despossessão de si, José Cardoso Pires, em De Profundis, Valsa Lenta, faz frente pela criação literária, autoficcionando-se e recuperando, não o que foi, mas o que poderia ser, tocando o traço biográfico ainda mais fundo, ser escritor. Em Fernanda, de Ernesto Sampaio, a vinda à escrita constitui uma procura de apagamento, de um fogo, que corresponderia ao esquecimento e à solidão, uma vez que a morte da mulher amada é-lhe insuportável. Esta passagem acontece numa tensão, que pode ser lida com o auxílio da concepção de luto de Derrida. Nos poemas de Manuel Alegre e Miguel Torga, escritos na prisão, a poesia surge como reserva íntima da liberdade, uma protecção luminosa da presença humana, apresentada num contraste com a personalização do contexto, impedindo o seu domínio, embora no segundo autor a fragilidade seja mais exposta. Assim, a escrita surge como cuidado de si, exercício espiritual enquanto esforço para viver melhor. Excedendo a própria vida, torna-se dádiva, cuidado do outro. Em De Profundis, Valsa Lenta, pela via do testemunho. Em Fernanda, pela construção de um altar em memória da mulher e do amor, num sentido lato feito herança. Em Alegre, é erguido o silêncio enterrado dos anónimos pelo canto, que realiza a escovagem da história a contrapelo, como propõe Walter Benjamin, não deixando de respeitar o “testemunho impossível”, designação de Agamben. Estes gestos são apelos. Cabe à leitura alimentar este cuidado, numa postura de hospitalidade. The aesthetic experience can be a body's answer to an event that provoked suffering, a rupture of harmony, a lack of meaning. To the loss of memory generated by a CVA that openned a void, a blank period, lived afterwards as dispossession of the self, José Cardoso Pires, in De Profundis, Valsa Lenta, faces through literary creation, fictioning himself and recovering not what he was but what he could be, touching even deeper the biographical line: to be a writer. In Ernesto Sampaio’s Fernanda, writing is an aim for vanishment, is looking for a fire, that would allow for forgetfulness and solitude, since the death of his beloved wife is unbearable. This period of tension can be better read with Derrida's conceptualisation of grief. In the poems of Manuel Alegre and Miguel Torga, which have been written whilst the authors were in prison, poetry appears to be the utmost safeguard of freedom, an enlightened protection of humanity, contrasting with a personalisation of context which conceals its realm, although the second author exposes fragility in a greater degree. In this sense, writing appears as care of the self, a spiritual exercise aiming at a better life. It exceeds life itself, becoming a gift, a care of the other. In De Profundis, Valsa Lenta, through testimony. In Fernanda, through the edification of an altar in memory of the beloved woman and love, here in the broad sense of inheritance. In Alegre, the buried silence from the unknown is erected through singing, creating the brushing of history in reverse, as put forward by Walter Benjamin, still allowing for Agamben’s “impossible testimony”. This gestures are calls. Reading must feed this care with an hospitable posture. |
| URI: | http://hdl.handle.net/10362/51116 |
| Designação: | Estudos Portugueses |
| Aparece nas colecções: | FCSH: DEPOR - Dissertações de Mestrado |
Ficheiros deste registo:
| Ficheiro | Descrição | Tamanho | Formato | |
|---|---|---|---|---|
| Nem só de pão vive o homem, a escrita como cuidado. Raquel Luís Botelho Rodrigues.pdf | 1,42 MB | Adobe PDF | Ver/Abrir |
Todos os registos no repositório estão protegidos por leis de copyright, com todos os direitos reservados.











