A Encomenda Arquitetónica do Cardeal D. Henrique em Évora

Abstract

O Cardeal D. Henrique foi o primeiro arcebispo de Évora, cargo que ocupou por duas vezes e manteve durante mais de duas décadas (1540-64; 1575-78). A ele se deve, por isso, um importante conjunto de obras arquitetónicas, tanto eclesiásticas como civis, na cidade. O objetivo desta dissertação de mestrado foi, a partir de uma seleção dos edifícios mandados construir por ordem expressa do cardeal, definir a sua encomenda arquitetónica em Évora. São estes: o Convento do Bom Jesus de Valverde; a Igreja de Santo Antão; o Colégio do Espírito Santo; e as fontes e cruzeiros por ele mandados fazer na cidade. Nelas conferimos uma opção constante pela austeridade ornamental, em grande medida por via do abreviamento, e o uso de modelos medievais, sem por isso se deixar de utilizar por base a tratadística do Renascimento – o que insere esta arquitetura no conceito de “arquitetura chã”. Apoiados em crónicas de ordens religiosas, em escritos de homens de letras do círculo do cardeal, e na peça de teatro quinhentista “Auto da Avé Maria”, de António Prestes, onde o classicismo é associado ao Diabo e ao paganismo, propomos que a opção pela austeridade e o recurso a modelos medievais se deva maioritariamente a um contexto de desconfiança em relação ao classicismo e às suas origens pagãs, entre outros motivos de cariz religioso e talvez identitário.

Cardinal Henry of Portugal was the first archbishop of Évora, a position he occupied twice and kept for over two decades (1540-64; 1575-78). He was responsible for the construction of an important series of buildings, both ecclesiastical and civil, in the city. The objective of this master’s dissertation is, through the analysis of a selection of the buildings commissioned by order of the cardinal, to define his architectonic patronage in Évora. These buildings are: the Convent of Bom Jesus in Valverde; the Church of Santo Antão; the College of Espírito Santo; and the fountains and crosses whose construction in the city was ordered by him. In them, we see a constant option for ornamental austerity, especially through abbreviation, and the use of medieval models, though without ceasing to use as their base the treatises of the Renaissance – which frames them into the concept of “plain architecture”. Using the chronicles of religious orders, writings by scholars of the circle of the cardinal, and the sixteenth century theatre play “Auto da Avé Maria”, by António Prestes, where classicism is associated to the Devil and to paganism, we propose that the option for austerity and the use of medieval models is mostly due to a context of distrust of classicism and its pagan origins, as well as other religious, and perhaps identitarian, reasons.