Relação entre a sequência de administração das vacinas Pentavalente e do Sarampo e o risco de morte em crianças entre os 9 e os 18 meses de idade internadas no serviço de pediatria do Hospital Nacional Simão Mendes em Bissau, Guiné-Bissau, entre Janeiro de 2016 e Dezembro de 2021

Abstract

Contexto: Na Guiné-Bissau, oficialmente, as doses da vacina Pentavalente são administradas aos 6, 10 e 14 semanas de idade e a vacina Antissarampo (VAS) aos 9 meses, mas frequentemente este calendário não é cumprido. Vários fatores são responsáveis pela vacinação fora do calendário vacinal, o que pode ter efeitos pouco conhecidos na mortalidade das crianças. Estudos anteriores mostraram que as vacinas podem ter efeitos não específicos (ENE) na saúde. Esses efeitos podem depender da ordem de administração, fatores sociais, biológicos, entre outros. Objetivo: Analisar a relação entre a ordem de administração da vacina Pentavalente e da vacina do Sarampo e o evento morte não acidental intra-hospitalar em crianças entre os 9 e os 18 meses de idade internadas no serviço de pediatria do Hospital Nacional Simão Mendes (HNSM) em Bissau, Guiné-Bissau, entre Janeiro de 2016 e Dezembro de 2021. Métodos: Realizamos um estudo quantitativo, observacional, de coorte histórica, usando dados do Sistema de Vigilância Demográfica e Sanitária (SVDS) do Projeto de Saúde Bandim (PSB) relativos a um total de 3139 crianças internadas entre Janeiro de 2016 e Dezembro de 2021 no serviço de pediatria do HNSM. Descreveu-se as medidas de tendência central e de dispersão para o peso e dias de internamento. A associação entre morte intra-hospitalar e a sequência vacinal recebida pela criança foram avaliadas através do risco relativo de morte, assim como para o sexo, procedência, faixa etária, estatuto vacinal, vacina Bacilo Calmette-Guérin (BCG), vacina oral da poliomielite (VOP), vacina Pentavalente e VAS. Este estudo foi aprovado pelo Comité Nacional de Ética na Saúde (CNES) da Guiné Bissau. Resultados: Foram estudadas 3139 crianças, das quais 43,4% não tinham recebido a vacina Pentavalente ou a VAS e 6,0% (n=107) tinham-na recebido fora do calendário recomendado. Quanto ao desfecho morte, das 3139 crianças, 95,0% (n=2981) sobreviveram ao internamento enquanto 5,0% (n=158) faleceram durante o mesmo. Verificou-se que a incidência de morte era superior nas crianças vacinadas fora do calendário recomendado (6,5% vs 4,1 %) diferença não significativa estatisticamente (p=0,212; RR=1,649; IC95=[0,738; 3,684]). Do total de 158 crianças que faleceram, 4,4 % não tinham recebido a vacina BCG, 44,9% não tinham recebido as três doses da VOP, 20,3% não tinham recebido as três doses da vacina Pentavalente e 52,5 % não tinham recebido a VAS. No entanto, as crianças não vacinadas com as três doses da VOP apresentaram maior risco de morte (RR=2,221; IC95=[1,607; 3,070]), bem como as não vacinadas com as três doses da vacina Pentavalente (RR=1,832; IC95=[1,224; 2,741]) e as não vacinadas com a VAS (RR=1,483; IC95=[1,076; 2,043]). Conclusão: Resultados mostraram que a sequência de administração das vacinas Pentavalente e VAS têm impacto na sobrevivência das crianças internadas, e que alterações na sequência normal destas, aumenta o risco de morte nas crianças. Geralmente, os resultados coincidiram com as observações de estudos similares, contribuindo nas evidências sobre os ENE das vacinas.

Context: In Guinea-Bissau, officially, doses of the Pentavalent vaccine are administered at 6, 10 and 14 weeks of age and the Measles vaccine (MV) at 9 months, but this schedule is often not followed. Several factors are responsible for vaccination outside the vaccination schedule, which may have little-known effects on child mortality. Previous studies have shown that vaccines can have non-specific effects (NSE) on health. These effects may depend on the order of administration, social or biological factors. Objective: To analyze the relationship between the order of administration of the Pentavalent vaccine and the MV and the event of non-accidental in-hospital death. The study population was composed of children between 9 and 18 months of age admitted to the pediatrics service of the Hospital Nacional Simão Mendes (HNSM) in Bissau, Guinea-Bissau, between January 2016 and December 2021. Methods: We conducted a quantitative, observational, historical cohort study, using data from the Demographic and Sanitary Surveillance System (HDSS) of the Bandim Health Project (BHP), consisting of 3139 children hospitalized between January 2016 and December 2021 in the pediatric service of the HNSM. Proportions, means, medians and dispersion for weight and days of hospitalization were described. The association between in-hospital death and the vaccination sequence received by the child was evaluated through the relative risk of death, as well as for sex, origin, age group, vaccination status, Bacillus Calmette-Guérin vaccine (BCG), oral polio vaccine (OPV), Pentavalent vaccine and MV. This study was approved by the National Committee for Ethics in Health (NCEH) of Guinea-Bissau. Results: 3139 children were studied, of whom 43.4% had not received the Pentavalent or VAS vaccine and 6.0% (n=107) had received it outside the recommended schedule. Regarding the death outcome, of the 3139 children, 95.0% (n=2981) survived hospitalization while 5.0% (n=158) died during it. There was a higher incidence of death in children vaccinated outside the recommended schedule (6.5% vs 4.1%), a difference that was not statistically significant (p=0.212; RR=1.649; 95% confidence interval (CI) =[0.738; 3.684]). Of the 158 deaths, 4.4% had not received the BCG vaccine, 44.9% had not received the three doses of OPV, 20.3% had not received the three doses of the Pentavalent vaccine and 52.5% they had not received the MV. However, children not vaccinated with three doses of OPV had a higher risk of death (RR=2.221; 95%CI=[1.607; 3.070]) than those vaccinated with three doses, furthermore, those not vaccinated with three doses of Pentavalent vaccine (RR=1.832; IC95 =[1.224; 2.741]) had higher mortality than those vaccinated with three doses and those not vaccinated with MV had higher mortality than measles-unvaccinated children (RR=1.483; CI95=[1.076; 2.043]).Conclusion: Results support that the sequence of administration of Pentavalent and MV has an impact on the survival of hospitalized children, and that changes in their normal sequence may increase the risk of death in children. Generally, the results are aligned with observations from similar studies about NSE of vaccines.