Despertar a autorregulação da aprendizagem: o papel dos professores na formação de jovens músicos

Abstract

Na área das ciências musicais, o conceito de autorregulação tem sido estudado a partir de diversas perspectivas, incluindo o desenvolvimento musical em geral, os processos de estudo e de ensino, a interpretação ou a musicoterapia. A autorregulação da aprendizagem, uma vertente relevante para os contextos escolares, diz respeito ao controlo das cognições, dos pensamentos e dos comportamentos direcionados para a realização dos objetivos educacionais. Ao explorar esses conceitos no contexto da música, é possível compreender os benefícios de uma autorregulação produtiva, bem como as lacunas frequentemente identificadas em muitos alunos, como a falta do foco, organização e eficiência no uso de estratégias de estudo. Consequentemente, questiona-se a inconsistência na produtividade de jovens instrumentistas durante o seu estudo individual. Este problema tem sido abordado com ênfase nos processos de aprendizagem; contudo, parece haver uma escassez de orientações práticas sobre como incentivar os alunos a regular a si próprios. Portanto, o propósito deste estudo é promover a autorregulação da aprendizagem. Especificamente, esta investigação tem como objetivo investigar as estratégias de ensino que podem promover uma maior autonomia nos alunos no contexto do ensino individual de instrumentos musicais. Para conduzir esta investigação, recorreu-se ao modelo cíclico de aprendizagem autorregulada proposto por Barry Zimmerman, que engloba três fases: (i) estabelecer metas, (ii) aplicar estratégias de estudo de forma consciente e (iii) refletir sobre o desempenho. Foram realizados dois estudos empíricos. No Estudo 1, participaram 20 professores de instrumentos de cordas friccionadas em entrevistas cujo objetivo era relacionar práticas, experiências e crenças com as três fases do modelo teórico. Os dados foram submetidos a análise temática e, de uma forma geral, indicam que há uma compreensão sólida do conceito e uma crença de que os processos de autorregulação podem levar a um desempenho mais produtivo. Os resultados demonstram a existência de práticas utilizadas, como o equilíbrio entre o conteúdo de ensino e os processos individuais dos alunos, bem como a adoção de diversas estratégias de organização e de motivação. No entanto, algumas estratégias foram menos comentadas, como incentivar o canto, simular o estudo individual e promover a prática mental durante as aulas. O Estudo 2 envolveu seis professores e nove alunos, com o objetivo de investigar as estratégias de ensino, tanto verbais como não-verbais. Para análise de conteúdo, foram selecionados 44 segmentos didáticos a partir de um total de dez aulas observadas, e as práticas dos docentes foram codificadas com o auxílio do software MAXQDA2022. Verificou-se a utilização pontual de instruções que poderiam promover a autorregulação nos alunos, no entanto, estas raramente abrangiam as três fases do modelo teórico. Com base nestes resultados, foram realizados seminários de curta duração que proporcionaram uma introdução ao conceito, familiarização com as etapas principais e sugestões para aplicações práticas. Embora tenham como objetivo promover a autorregulação da aprendizagem, as sessões de sensibilização pontuais não são suficientes para avaliar o seu impacto no público-alvo. Uma vez que o desenvolvimento da autorregulação é um processo que amadurece ao longo do tempo, é necessário intervir nas crenças e práticas, integrando este conhecimento na formação de professores.

In the area of music sciences, the concept of self-regulation has been studied from different perspectives, including general musical development, learning and teaching processes, performance or music therapy. In school settings, self-regulated learning refers to the ability to control and guide one's thoughts, behaviors, and cognitions toward educational goals. By exploring these concepts in the context of music, it is possible to understand the benefits of productive self-regulation, as well as the often-identified gaps in many students, such as a lack of focus, organization, and effective use of study strategies. Consequently, the variability in the productivity of young instrumentalists during their practice comes into question. This issue has been addressed with an emphasis on learning processes; however, there seems to be a lack of practical guidance on how to encourage students to self-regulate. Therefore, the purpose of this study is to promote self-regulated learning. Specifically, this research aims to investigate teaching strategies that can foster greater autonomy in students in the context of individual music instrument instruction. To conduct this research, the cyclic model of self-regulated learning proposed by Barry Zimmerman was used, which encompasses three phases: (i) setting goals, (ii) consciously applying study strategies, and (iii) reflecting on performance. Two empirical studies were conducted. In Study 1, 20 string instrument teachers participated in interviews that aimed to relate practices, experiences, and beliefs to the three phases of the theoretical model. The thematic analysis was conducted and, overall results indicate a solid understanding of the concept and a belief that self-regulation processes can lead to more productive performance. The results demonstrate commonly used practices, such as equilibrate teaching content according to students' needs and resorting to different organizational and motivational strategies. However, some strategies were less frequently mentioned, such as encouraging singing, simulating individual study, and in-class mental practice. Study 2 involved six teachers and nine students, with the goal of investigating teaching strategies, both verbal and non-verbal. For content analysis, 44 rehearsal frames were selected from ten observed lessons, and the teachers' practices were coded using the MAXQDA2022 software. The results indicate occasional use of instructions that may promote self-regulation in students; however, these rarely encompassed all three phases of the theoretical model. Following these results, short-term seminars were conducted, providing an introduction to the concept, familiarization with the key principles, and practical application suggestions. Although intended to promote self-regulated learning, achieving a clear understanding of the impact on a specific audience cannot be accomplished with only a single awareness session. Since the development of self-regulation is a maturing process, it is necessary to address beliefs and practices effectively and incorporate this knowledge into the teacher professional development program