Influência da duração do aleitamento materno exclusivo na desnutrição infantil na Guiné-Bissau: análise do Inquérito aos Indicadores Múltiplos de Saúde de 2018-2019

Abstract

RESUMO - A desnutrição infantil é responsável anualmente por 60% das mortes infantis mundialmente, sendo a principal causa de morbimortalidade infantil na Guiné-Bissau. O aleitamento materno exclusivo (AME) nos primeiros 6 meses de vida é determinante no combate à desnutrição infantil. Contudo, a magnitude do efeito permanece controversa, nomeadamente o tempo de exposição mínimo para proteção contra a desnutrição infantil. Este estudo transversal, teve por objetivo estimar a associação entre o AME e a desnutrição infantil. Foi realizada uma análise secundária de uma amostra de 790 crianças de 0-6 meses inquiridas no sexto Inquérito aos Indicadores Múltiplos de Saúde conduzido na Guiné-Bissau em 2018-2019. Foram estimadas as prevalências amostrais e populacionais de desnutrição, e calculados odds ratio brutos e ajustado (ORa) e intervalos de confiança a 95% (IC 95%) para estimar a associação entre AME e desnutrição, por regressão logística. A prevalência da desnutrição infantil foi de 19,1% (IC 95%: [16,4-21,9]), com predominância para a desnutrição crónica (15,1%, IC 95%: [12,7-17,8]). 98,9% (IC95%: [97,9-99,5]) das crianças foram aleitadas mas 46,4% (IC 95%: [42,7-49,7]) das crianças menores de 6 meses não beneficiam de AME. Quando ajustado para a frequência de consultas pré-natais, escolaridade materna e índice de rendimento, a exposição ao AME reduz em 80% a probabilidade de ter desnutrição crónica ao 4º mês de idade (ORa: 0,2; IC 95%: [0,1-0,6]). Não foi encontrada uma associação estatisticamente significativa para a desnutrição aguda (ORa: 1,0; IC 95%: [0,4-2,8]). O estudo reforça a importância do AME na proteção contra a desnutrição infantil. É necessário analisar os determinantes sociais que limitam as práticas de aleitamento materno exclusivo no contexto da Guiné-Bissau.

ABSTRACT - Child malnutrition is responsible for about 60% of child deaths worldwide each year and is the main cause of child morbi-mortality in Guinea-Bissau. Exclusive breastfeeding practices (EBF) at 6 months are a determining factor in preventing child malnutrition. However, the magnitude of the effect remains controversial, particularly regarding the minimum exposure time to provide protection against child malnutrition. This cross-sectional study, aimed to estimate the association between exposure to EBF and child malnutrition. A secondary analysis was conducted on a sample of 790 children aged 0-6 months surveyed in the sixth Multiple Health Indicators Survey conducted in Guinea-Bissau in 2018-2019. Sample and population prevalences were estimated, and crude and adjusted odds ratio (aOR) and 95% confidence intervals (95%CI) were calculated to estimate the association between EBF and malnutrition by logistic regression. The prevalence of child malnutrition is 19.1% (95%CI: [16.4-21.9]), with a predominance of chronic malnutrition, at 15.1% (95%CI: [12.7-17.8]). 98.9% (95%CI: [97.9-99.5]) of children were breastfed. However, 46.4% (95%IC: [42.7-49.7]) of children under 6 months do not benefit from EBF. When adjusted for prenatal visit frequency, maternal education and income index, exposure to EBF reduces the probability of having stunting by 80% at 4 months of age (aOR: 0.2; 95%CI: [0.1-0.6]). No statistically significant association was found for acute malnutrition (aOR: 1.0; 95%CI: [0.4-2.8]). The study reinforces the importance of exclusive breastfeeding in protecting against child malnutrition, with a need for further analysis of the social determinants impairing exclusive breastfeeding practices in the context of Guinea-Bissau.