Necessidades em saúde, acesso e utilização dos Serviços de Saúde por parte de crianças refugiadas em Portugal

Abstract

RESUMO - A intensificação dos movimentos migratórios na União Europeia, nomeadamente por motivos socioeconómicos, de saúde, devido a conflitos armados ou impactos das alterações climáticas, tem-se traduzido num aumento no número de pedidos de asilo e de atribuição de estatutos de refugiados. As populações refugiadas, em especial as crianças estão sujeitas a fatores biopsicossociais que podem comprometer a sua saúde. O presente estudo teve como propósito compreender as principais necessidades em saúde de crianças refugiadas em Portugal, bem como as experiências no acesso e utilização dos serviços de saúde. Realizaram-se doze entrevistas semiestruturadas a progenitores de crianças e jovens refugiados (até 15 anos), com residência em Portugal há pelo menos três meses. Os participantes reportaram condições de saúde prévias à instalação no país e diferentes experiências de adaptação ao mesmo. Observou-se uma predisposição para a utilização dos cuidados de saúde primários, apesar de estes, muitas vezes, não corresponderem às expectativas. Dificuldades no acesso e utilização dos serviços de saúde foram referidas, incluindo em termos de comunicação com os profissionais de saúde, procura de informação, e espera por consultas e exames. Porém, as redes de suporte social foram tidas como facilitadores no acesso aos cuidados de saúde. As necessidades em saúde manifestadas são muito variadas, e, apesar da importância conferida ao acesso aos cuidados de saúde por parte das famílias, as mesmas são confrontadas com desafios que limitam esse contacto, mesmo considerando a existência de recursos que intendem minorar essas barreiras, como as associações e a comunidade. Este estudo visa contribuir para um maior conhecimento sobre necessidades em saúde de crianças refugiadas que seja útil para a reflexão sobre respostas efetivas, nomeadamente para a promoção do acesso e utilização de cuidados de saúde desta população em Portugal.

ABSTRACT - The intensification of migratory movements in the European Union, including for socio-economic reasons, health, armed conflict or climate change impacts, has resulted in an increase in the number of asylum applications and refugee statuses. Refugee populations, especially children, are subject to biopsychosocial factors that may compromise their health. This study aimed to understand the main health needs of refugee children in Portugal, as well as their experiences in accessing and using health services. Twelve semi-structured interviews were carried out with parents of refugee children and young people (up to 15 years old), living in Portugal for at least three months. Participants reported health conditions prior to settling in the country and different experiences of adaptation to it. A predisposition towards the use of primary healthcare was observed, even though these often did not meet expectations. Difficulties in the access and use of health services were mentioned, including in terms of communication with health professionals, searching for information, and waiting for consultations and exams. However, social support networks were perceived as facilitators in the access to health care. The health needs expressed are very varied and, despite the importance given to the access to health care by families, they are faced with challenges that limit this contact, even considering the existence of resources that aim to reduce these barriers, such as associations and the community. This study aims to contribute to a greater knowledge on the health needs of refugee children that may be useful for reflection on effective responses, namely for the promotion of access and use of health care for this population in Portugal.