Memória, infância e relações familiares em Formas de volver a casa, de Alejandro Zambra, e a Resistência , de Julián Fuks

Abstract

Esta dissertação apresenta uma leitura e análise comparada de duas obras latino-americanas, Formas de volver a casa, do chileno Alejandro Zambra, e A resistência, do brasileiro de família argentina Julián Fuks. As ficções aqui abordadas têm como pano de fundo ditaduras, tema que as conecta. As rememorações feitas pelos narradores geram mergulhos em imagens, na infância de cada um e em lugares afetivos configurando os tecidos identitários que se formaram durante a vida. Partindo da desconstrução dos narradores para acessarem suas memórias, trago a leitura das obras a partir dos olhares infantis, oriundos de indivíduos que podem ser entendidos como personagens, autores e protagonistas. Pretendo, dessa forma, apresentar a voz infantil que sussurra ao adulto e apresenta a memória a fim de reestabelecer relações familiares. Conceitos de pós-memória, identidade, subjetividade infantil e imaginário relacionado à casa sedimentam a base do trabalho sobre essas obras que a ficção se mescla ou até mesmo se apropria da verdade e a escrita de si pode ser vista como uma performance do autor. Do trabalho, conclui-se que as relações familiares foram impactadas com o trauma ditadura, esvaziando o cotidiano e deixando fissuras nos narradores. Eles, por sua vez, encontram estratégias narrativas para traçar o caminho de volta para casa e buscar nessas relações resistência e afeto.

This dissertation presents an analysis through the reading of two Latin American novels, Formas de volver a casa, by chilean Alejandro Zambra, and A Resistência, by the brazilian from an argentinean family Julián Fuks. The fictions discussed here have dictatorship as a backdrop, a theme that connects them. The recollections made by the narrators produce immersion in images, in each one's childhood and affective places, configuring the identity relations built during their lives. Starting from the deconstruction of the narrators to access their memories, I bring the reading of the works from the perspective of children, coming from characters that can be understood as authors and protagonists. In this way, I intend to present the child's voice that whispers to the adults and presents the memories in order to reestablish family relationships. Concepts of post-memory, identity, child subjectivity and imaginary related to the house sediments the basis of the labor on these works in which fiction mixes with or even appropriates the truth and the writings about itself can be seen as a performance by the author. From the work, it is concluded that family relationships were impacted by the dictatorship, emptying daily life and leaving clafts in the narrators. They, in turn, find strategies to trace the path back home and find relationships of resistance and affection.