Exílio queer? Migração de pessoas brasileiras LGBT+ para Portugal no contexto da ascensão da ultradireita no Brasil

Abstract

Segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), nos anos de 2018 e 2019, a imigração de pessoas do Brasil para Portugal apresentou expressivo aumento em relação aos anos anteriores. No ano de 2018, chegaram ao país cerca de 30 mil brasileiros e, em 2019, mais cerca de 50 mil. Estes números representam mais da metade do total de brasileiros residentes em Portugal ao final de 2019, um estoque de cerca de 150 mil imigrantes de nacionalidade brasileira. Este expressivo aumento coincide com o momento histórico da ascensão de um novo governo no Brasil, associado ao campo da extrema-direita e cuja campanha eleitoral se baseou, entre outras pautas, em um discurso contrário à defesa de direitos humanos, em especial, de direitos e proteção a uma comunidade específica, qual seja, a de pessoas de orientação sexual ou identidade de gênero diversas, ou pessoas LGBT+. Após o processo eleitoral, foram noticiadas nas mídias brasileira e internacional histórias de pessoas LGBT+ brasileiras que, sentindo-se ameaçadas pela ascensão de um governo declaradamente contrário ao que nomeia como “ideologia de gênero”, ou à defesa dos direitos e proteção às pessoas LGBT+, decidem sair do Brasil, buscando acolhimento em outros países, nomeadamente Portugal. Estas histórias pessoais vinculadas pela mídia emergem em coincidência com os dados de aumento da imigração brasileira para Portugal, o que propõe a questão sobre a qual se baseia esta pesquisa, qual seja, a relação entre a ascensão do governo de extrema-direita e o aumento da imigração de pessoas LGBT+ do Brasil para Portugal. Para tanto, desenvolve-se neste trabalho análise qualitativa através de entrevistas a pessoas LGBT+ brasileiras que se mudaram para Portugal durante e após o processo eleitoral brasileiro de 2018, de forma a identificar em seus relatos e experiências elementos que corroborem com a ideia de que a ascensão de um governo de extrema-direita possa ter como consequência a migração queer.

According to the portuguese “Foreigners and Borders Service” (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras – SEF), in 2018 and 2019, the immigration from Brazil to Portugal had a significant increase compared to previous years. Around 30,000 brazilians arrived in the country in 2018 and around 50,000 more in 2019. These numbers represent more than half of the total number of brazilians residing in Portugal in the end of 2019, a stock of around 150,000 brazilian immigrants. This expressive increase coincides with the historic moment of the rise of a new government in Brazil, a far-right-wing government, whose electoral campaign was based, among other agendas, on a speech against the defense of human rights, particularly the rights and protection of a specific community, that is, people of diverse sexual orientation or gender identity, in other words, LGBT+ persons. After the electoral process, brazilian and international media reported stories of brazilian LGBT+ persons who felt threatened by the rise of a government declaredly against what they call “gender ideology”, or the defense of the rights and protection of LGBT+ persons, and decided to leave Brazil, seeking shelter in other countries, mainly Portugal. These personal stories linked by the media emerge in coincidence with the data on the increase of brazilian immigration to Portugal, which proposes the question that bases this research, that is, the relation between the rise of the far-right government in Brazil and the increase in immigration of LGBT+ persons from Brazil to Portugal. Therefore, this research develops a qualitative analysis through interviews with brazilian LGBT+ persons who moved to Portugal during and after the 2018 brazilian’s electoral process to identify in their reports and experiences, elements that corroborate the idea that the rise of a far-right government may have “queer migration” as a consequence.