Georges Bataille e o nascimento da arte

Abstract

Partindo do livro La peinture préhistorique. Lascaux ou la naissance de l’art (O Nascimento da Arte), escrito entre 1953 e 1955 por Georges Bataille sobre as pinturas paleolíticas da gruta de Lascaux e dos restantes artigos, palestras e ensaios que o autor consagrou ao assunto, procurámos traçar a tentativa de aproximação de Bataille às pinturas mais misteriosas da História da Arte. Para além de descrever a maneira como um autor – Georges Bataille – olhou para e interpretou estas pinturas, procurámos compreender o que se esconde por trás dessa leitura, o que ela revela sobre o próprio e a maneira como ela é determinada por problemas gerais, relacionados com o contexto moderno no qual as pinturas foram descobertas. Segundo Bataille, quando o homem se separou do animal, instaurou uma cisão ontológica que o apartou definitivamente do reino animal, abrindo uma ferida impossível de sarar. Mas, dado que é um ser dialético, o homem pode retornar à origem dessa ferida, mergulhando momentaneamente na intimidade obscura do seu ser. Considerando o contexto histórico, político, filosófico e artístico que presidiu à escrita das obras de Georges Bataille, procurámos acoplar a análise do pensamento do escritor com as comoções que determinaram a primeira metade do séc. XX, nomeadamente a secularização da sociedade depois da “morte de Deus”, a perda de fé no racionalismo depois da Revolução Francesa, as Duas Guerras Mundiais e o anti-humanismo que lhes seguiu. Assumida a preocupação de Bataille com o sagrado na vida moderna, estabelecemos que o núcleo estruturante da sua obra escrita é caracterizado pela procura de modos de aceder à fonte sagrada da humanidade, trazida à luz pela aurora de Lascaux.

Taking our departure from the book La peinture préhistorique. Lascaux ou la naissance de l’art (Prehistoric painting. Lascaux or the birth of art), written by Georges Bataille between 1953 and 1955 about the palaeolithic paintings present in the grotto of Lascaux, as well as the articles, essays and talks given by Bataille on the subject, we analysed the way in which the author tried to come close to a reading of these, the most mysterious paintings known to Art History. Besides describing how an author – Georges Bataille – looked at and interpreted these paintings, it was our aim to understand what hides behind such a reading, what it says about the author himself and how it is determined by more general problems, related to the modern context in which the paintings were discovered. In Bataille’s view, the separation of human being from animal being put in motion an ontological break that separated man irreversibly from the animal realm, hence openinga wound impossible to heal. However, since man is a dialectical being, it is possible for him to return to the origin of his wound and momentarily connect with his obscure truth. Considering the historical, political, philosophic, and artistic context that presided over the creation of Bataille’s literary corpus, we intertwined our reading of his thought with the commotions that determined the first half of the XX century, namely the secularization of society after the “death of God”, the loss of faith in rationality after the French Revolution, the two World Wars and the anti-humanism that gained its ground afterwards. Having assumed Bataille’s questioning around the place of the sacred in modern society, we established that the core of his literary work is defined by the search of ways to access humanity’s sacred primordial fountain, put to light by Lascaux’s awakening.