Aquisição de Ataques Ramificados por Crianças Bilingues de Português Europeu-Inglês

Abstract

O estudo da fonologia em falantes bilingues, com o Português Europeu (PE) como uma das línguas em estudo, é ainda uma área pouco explorada. Entre os trabalhos que existem sobre o PE encontramos o de Almeida (2011), onde foi observada a aquisição da estrutura silábica em bilingues PE-francês. O presente trabalho tem como objetivo estudar a aquisição de ataques ramificados por crianças bilingues, introduzindo um novo par de línguas: o PE e o inglês (EN) e o de comparar o desenvolvimento dos ataques ramificados dos bilingues PE-EN com os dos monolingues das duas línguas. Em PE existem 14 possibilidades de ataques ramificados (Mateus et al. 2005), sendo a sequência consonântica mais frequente oclusiva + [ɾ] (Mateus, 1994); o inglês (EN) permite um maior número de ataques ramificados, 32, de acordo com Brinton & Brinton (2000). Nas duas línguas, esta propriedade é adquirida depois dos ataques simples. Nas crianças monolingues de PE, os ataques ramificados começam a ser produzidos por volta dos 2 anos de idade (Freitas, 1997) e nas crianças monolingues de EN um pouco mais cedo, entre os 1;10 e os 2;04 (Dodd, 1995). Foram estudadas as sequências consonânticas /pl-/, /pr-/, /kl-/, /kr-/ e /fl-/, por serem ataques ramificados comuns às duas línguas e também por serem os mesmos que Almeida (2011) estudou. Para tal, foram aplicados dois testes: um teste de produção induzida com uma tarefa de nomeação e um teste de repetição de pseudopalavras, para despistar possíveis efeitos de frequência de algumas palavras. Cada teste tem uma versão em PE e outra em EN. Foram testadas 25 crianças, dos 3 aos 5 anos, bilingues de PE-EN. Os resultados mostram que, nestes bilingues de PE-EN, estabiliza, em primeiro lugar, o ataque ramificado /fl-/, enquanto o ataque ramificado /pr-/ se apresenta como a condição mais complexa e, por isso, mais tardia de adquirir e estabilizar. Foi também possível concluir, neste estudo, que quer o input quer o tempo de exposição à língua não desempenham um papel fundamental no desenvolvimento linguístico das línguas observadas, uma vez que os bilingues simultâneos que estiveram mais expostas ao EN e obtiveram mais input (de acordo com os questionários sociolinguísticos) não obtiveram melhores resultados nas versões EN dos testes. Pelo contrário, os bilingues sequenciais apresentam melhores resultados nas versões PE dos testes, o que poderá estar relacionado com a maior quantidade de input que recebera e o maior tempo de exposição ao PE.

The study of phonological development in bilingual speakers, with European Portuguese as a language of study, is a field which has not yet been sufficiently explored. It is worth mentioning the work by Almeida (2011) that studied the acquisition of syllable structure in Portuguese-French bilinguals. The aim of this work is to study the acquisition of branching onsets adding a new pair of languages: European Portuguese (EP) and English (EN) and to compare the development of branching onsets in EP-EN bilingual speakers with the development of this property in monolinguals from both languages. There are 14 possibilities of consonant clusters in EP (Mateus et al. 2005) the most frequent one being the sequence stop + [ɾ]] (Mateus, 1994); EN allows 32 branching onsets (Brinton & Brinton, 2000), clearly more than EP. In both languages, branching onsets are acquired after non-branching onsets. In EP monolingual speakers, branching onsets are acquired around the age of 2 (Freitas, 1997) and EN monolingual speakers acquire this property a bit earlier, between1;10 and 2;04 (Dodd, 1995). The sequences studied were /pl-/, /pr-/, /kl-/, /kr-/ and /fl-/, because these are some of the branching onsets common to both languages, and also because these are some of the branching onsets that Almeida (2011) studied. To that purpose, two tests were applied: an elicited production test with word naming, and a non-word repetition test to rule out any effect of frequency or previous knowledge of some of the words tested. Each test had two versions, one in EP and one in EN. Twenty-two EP-EN bilingual children between 3 and 5 years-old were tested. The results of this study showed that EP-EN bilinguals acquire, first, the /fl-/ sequence, while the /pr-/ sequence has a delayed acquisition and stabilization. It was also possible to conclude that, in this study, the input and the time of exposure do not play an essential role in the development of tested languages, since the sequential simultaneous who had more input and more exposure to EN (following the sociolinguist questionnaire) did not have better results in the EN versions of the tests. On the other hand, the sequential bilinguals show better results in the EP versions, which can be related with the more quantity of input that they received and with the longer time of exposure to EP.