Soou-me aos ouvidos como uma lúgubre buzina: sobre ao som na criação musical contemporânea

Abstract

A viragem do séc. XIX para o séc. XX implicou enormes alterações na escuta e na análise do som, no que diz respeito à forma de o registar, de o reproduzir, de o editar e de o arquivar. essas mudanças tiveram como operador fundamental o desenvolvimento de inúmeros e diversificados instrumentos de registo, reprodução e manipulação, de cariz tecnológico. Como consequência dessa mudança, o som passa a desempenhar um papel diferente em muitos aspectos da vida das pessoas, uma vez que estas passam a ter uma noção cada vez mais alargada do que ele é, daquilo que pode significar, daquilo para que serve e do modo como ele se lida. A escuta, sofrendo essa alteração proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico, passou a ser uma actividade mais escrutinada, à qual se passa a conferir mais atenção, por se ter percebido que ela contém um dinamismo muito grande. Nesse contexto, a música enquanto arte que vive dos sons, acolheu para si, como consequência e também por vontade própria, muitas dessas mudanças tecnológicas surgidas. É neste quadro que se constata que a música, a partir do séc. XX, passa a lidar com o som de uma maneira mais alargada, versátil e dinâmica do que tinha acontecido até aí. Esta tese trata de ensaiar as análises das implicações que teve, ao nível da criação musical, o desenvolvimento tecnológico em torno do som. Aprofundando a ideia central de que o papel do som, na música, é definido por um enquadramento que traduz aspectos filosóficos, estéticos e políticos, esta tese investiga o desenvolvimento dessa noção de enquadramento e do modo como ele, a partir do início do séc. XX, muda de tal forma, que essa mudança se constitui como radical e abrangente, a ponto de se considerar um marco fundamental na definição da composição musical contemporânea. O quadro de exemplos sugeridos e de análises de caso segue uma determinação mais conceptual do que propriamente histórica, mostrando, assim, que a proliferação de técnicas, estéticas e metodologias de criação musical emergentes no séc XX se entende melhor através de uma perspectiva de comparação e intersecção, ao invés de uma linear progressão histórica apenas.

The turn of the 20th century entailed enormous changes in listening and sound analysis approach, in particular with regard to the recording, editing and archiving processes. Those changes had, as key operator, the development of numerous and diverse technology-driven tools for sound recording, playback and editing. As a result of this shift, sound started to play a diferent role in many aspects of people's lives, since they to have an increasingly broad notion of what it is, what it can mean, for what it serves and how one deals whith it. Listening, assuming this change provided by technological development, has become a more scrutinized activity, getting a greater emphasis, imthat it was peceived therein a great dynamism. As result of this scenario, music as an art of sounds, hosted, by consequence and by own volition, many of those arising technological changes. In this context, it turns out that music, from the begining of the 20th century, comes to deal with sound in a broader, versatile, and dynamic way, than what happened so far. This thesis comes to essay some analysis of the implications that had, in terms of musical creation, technological development concerning sound. Deepening the central idea that the role of sound in music is defined by a framework that reflects philosophical, aesthetic and political aspects, this thesis investigates the development of this frame question, and the way, from the beginning of 20th century, it changes in such an extent, that becomes as radical and comprehensive, as to be considered a milestone in the definition of contemporary musical composition. the presented set of examples and case analysis follows a more conceptual exposure than a properly historical one, thus showing that the proliferation of technical, aesthetic and emerging musical creation methodologies in the 20th century, better be understood from a comparison and intersection perspective, rather than just a linear historical progression.