Honestidade ou falta dela: a tentativa de compreensão de uma história bíblica a partir de Kierkegaard

Abstract

O objetivo desta investigação é compreender como é que é possível de um ponto de vista antropológico-filosófico o que se passa na história bíblica de David e do profeta Natan (2 Samuel 11-12:13). Como se sabe, Kierkegaard analisa exatamente a mesma história no seu texto “Para um exame de Consciência”. Porém, antes de analisar esse texto, propõem-se começar a pesquisa pela noção de honestidade e explorar, por conseguinte, todo um conjunto de problemas associados ao estado de David antes de lhe ser dirigido o “tu” de Natan. Assim, a tese estende-se por cinco capítulos, quatro dos quais dedicados a analisar o que é que “ser honesto” requer, o “como” normalmente nos empreendemos na existência, de que formas somos desonestos connosco próprios – através da linguagem, dos “outros”, da sagacidade. Tudo isto depende da síntese que o humano sempre já é, e, portanto, a partir daí explora-se o estado a que essas formas de desonestidade correspondem – a desespero inconsciente. No quinto capítulo, por fim, examina-se o que é então consciência e ao que é que isso corresponde, designadamente, à noção de preocupação e ao que isso requer, para depois ainda se acrescentarem alguns apontamentos sobre a história de David em concreto. De facto, uma linha que atravessa toda esta investigação e que se vai repetindo é a verificação da constante inclinação que o humano tem para a ossificação da sua consciência, e assim, por último, resta apenas afirmar que David é verdadeiramente um homem honesto.

The aim of this research is to understand how what happens in the biblical story of David and the prophet Nathan (2 Samuel 11-12:13) is possible from an anthropological-philosophical point of view. As we know, Kierkegaard analyzes exactly the same story in his text “For Self-examination”. However, before analyzing this text, it is proposed to begin the investigation with the notion of honesty and therefore explore a whole set of problems associated with David's state before Nathan's “you” was addressed to him. Thus, the thesis extends over five chapters, four of which are dedicated to analyzing what “being honest” requires, “how” we normally embark on existence, in what ways we are dishonest with ourselves – through language, through the “others”, through sagacity. All of this depends on the synthesis that the human is always already, and so from there we explore the state to which these forms of dishonesty correspond – unconscious despair. Finally, the fifth chapter examines what consciousness is and what it corresponds to, namely the notion of concern and what it requires, and then we add a few notes on David's story in particular. In fact, a thread that runs through this whole inquiry and that keeps recurring is the verification of the constant inclination that humans have towards the ossification of their conscience, and so, finally, it only remains to affirm that David is truly an honest man.