CONSERVAÇÃO DE OBJETOS ARQUEOLÓGICOS EM FERRO: CONTRIBUTOS PARA A ELABORAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE INTERVENÇÃO ADAPTADO AO MUSEU DA AMADORA

Abstract

Um conjunto de quinze pregos e de quatro ferramentas em ferro, de época romana, provenientes da necrópole do Moinho do Castelinho (Amadora), motivaram a necessidade de implementação de um procedimento de dessalinização através do método do sulfito alcalino, no Laboratório de Conservação e Restauro do Museu da Amadora. Os objetos arqueológicos em ferro apresentam frequentemente um avançado estado de corrosão, para o qual contribui de forma significativa a presença de cloretos, no- meadamente os cristais de akaganeite, que produzem pressões internas que levam ao desenvolvi- mento de fissuras e destacamento das camadas de alteração. Análises de Difração de raios X (DRX) efetuadas a amostras de corrosão dos pregos confirmaram a presença de oxi-hidróxidos de ferro (FeOOH), tais como a goethite (α-FeOOH), a lepidocrocite (γ-FeOOH) e a akaganeite (β-FeOOH). A elevada fragilidade de muitos destes objetos implica a necessidade de procedimentos de pré- consolidação pontual de fissuras e de adesão dos fragmentos em destacamento. Porém, a literatura e os estudos que fazem referência aos procedimentos prévios de estabilização física deste tipo de obje- tos são escassos, dispersos e pouco direcionados. No presente trabalho, além da implementação do procedimento de dessalinização, estudou-se também a adequação da resina acrílica Paraloid B-44 para consolidações que passem a estar sujeitas à imersão das peças numa solução altamente alcalina, a uma temperatura até 50 oC. Para tal foi realizada a avaliação da temperatura de transição vítrea (Tg) através de análises de Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) de amostras de resina sujeitas a diversas condições de secagem e imersão em solução de sulfito alcalino. O presente trabalho permitiu implementar um procedimento de dessalinização no laboratório do Museu fazendo uso de soluções alcalinas de sulfito, assim como validar o uso da resina acrílica Para- loid B-44 para consolidações prévias.

A set of fifteen nails and four iron tools from the Roman period discovered in the Moinho do Castelinho necropolis (Amadora) prompted the need to implement a chloride desalination procedure using the alkaline sulphite method at the Conservation and Restoration Laboratory of the Museu da Amadora. Archaeological iron objects often present an advanced state of corrosion, to which the pres- ence of chlorides contributes significantly, namely akaganeite crystals, which generate internal pres- sures that lead to the development of cracks and the detachment of alteration layers. X-ray diffraction (XRD) analysis of nail corrosion samples confirmed the presence of iron oxyhydroxides (FeOOH) such as goethite (α-FeOOH), lepidocrocite (γ-FeOOH) and akaganeite (β-FeOOH). The high fragility of many of these objects implies the need for procedures to pre-consolidate cracks and adhere detached fragments. However, the literature and studies relating to pre-stabilisation procedures for this type of object are scarce, scattered and poorly focused. In this study, in addition to implementing of the desalination procedure, we also studied the suitability of the acrylic resin Paraloid B-44 for consolidations involving immersion of the pieces in a highly alkaline solution at a temperature of up to 50 oC. To this end, the glass transition temperature (Tg) was determined by Differential Scanning Calorimetry (DSC) analyses of resin samples subjected to different drying conditions and immersion in an alkaline sulphite solution. This work made it possible to implement a desalination procedure in the Museum's laboratory using alkaline sulfite solutions, as well as to validate the use of Paraloid B-44 acrylic resin for previous consolidations.