Nigéria: um país instável como ator de estabilidade externa? As operações de peacekeeping na Libéria (1990-1997) e Serra Leoa (1997-2000)

Abstract

No contexto das instabilidades política e militar africanas, a presente dissertação visou compreender como a política externa nigeriana – desde a sua independência, em 1960, até às intervenções na Libéria e na Serra Leoa, entre 1990 e 2000 – se articulou com as políticas e o contexto doméstico, analisando a pretensão nigeriana de se definir como poder regional e assumir o papel de ator de estabilidade na região. Através de uma investigação de tipologia explicativa-descritiva, recorrendo a uma abordagem metodológica histórica e sociológica, e à análise documental, pretende-se analisar as relações nas dinâmicas políticas internas e externas nigerianas. Com a pergunta de partida “De que forma e com que objetivos a política externa nigeriana promoveu a sua intervenção nas operações de peacekeeping na Libéria e na Serra Leoa?”, define-se uma estrutura de quatro capítulos. Primeiro, um enquadramento teórico-conceptual – o Realismo Neoclássico – que serve como abordagem de leitura dos eventos e seus relacionamentos. Segundo, a reconstrução das linhas condutoras da política externa nigeriana, desde a sua ndependência, situando atores e evoluções políticas. Por último, o terceiro e quarto capítulo visam contextualizar os conflitos na Libéria e Serra Leoa, elencando razões internas e sistémicas que explicam a participação nigeriana nas respetivas operações de peacekeeping. Pretende-se contribuir, a dois tempos, para uma análise adicional sobre, primeiro, o papel de uma potência regional num continente por vezes negligenciado nas análises em Relações Internacionais, e, segundo, como essa mesma potência, a Nigéria, parece habitar um paradoxo triplo, entre as suas pretensões regionais, as obrigações para com a comunidade internacional, e insegurança e vulnerabilidades internas.

In the context of African political and military instability, this dissertation aims to understand how Nigerian foreign policy - from its independence in 1960 to its interventions in Liberia and Sierra Leone between 1990 and 2000 - was articulated with domestic policies and context. It analyses Nigeria's aspiration to define itself as a regional power and assume the role of a stabilizing actor in the region. Through an explanatory-descriptive investigation, using a historical and sociological methodological approach and document analysis, the goal is to examine the relationships between Nigeria's internal and external political dynamics. The guiding question is: "In what way and with what objectives did Nigerian foreign policy promote its intervention in peacekeeping operations in Liberia and Sierra Leone?" This question is explored through a structure of four chapters. First, a theoretical-conceptual framework - Neoclassical Realism - serves as a lens for interpreting the events and their relationships. Second, the dissertation reconstructs the main lines of Nigerian foreign policy since its independence, identifying key actors and political developments. Lastly, the third and fourth chapters aim to contextualize the conflicts in Liberia and Sierra Leone, outlining internal and systemic reasons that explain Nigeria's participation in the respective peacekeeping operations. The aim of this investigation is to provide both an additional analysis on the role of a regional power in a continent often neglected in international relations analyses; and to examine how Nigeria, as a regional power, appears to inhabit a triple paradox between its regional ambitions, obligations to the international community, and internal insecurity and vulnerabilities.