Assédio praticado contra os jornalistas portugueses: o caso do Correio da Manhã

Abstract

O ecossistema mediático tem sido marcado pela presença de um crime hediondo, que se prolonga há largas décadas, e cujos impactos não se refletem, somente, nos profissionais da informação. Este crime é o assédio laboral, uma forma de violência que deixa marcas severas nos profissionais e no seu bem-estar, sobretudo o mental, diminui as suas liberdades, condiciona a informação e, consequentemente, afeta o jornalismo, um dos principais pilares democráticos. O presente relatório tem como objetivo explorar a presença e as características do assédio laboral no quotidiano dos jornalistas portugueses, particularmente dos profissionais do Correio da Manhã, conhecer quais as tendências deste assédio, a perceção dos profissionais face ao mesmo e quais os mecanismos de combate formais e informais que existem para colmatar a incidência do fenómeno. De modo a alcançar os objetivos referidos, recorreu-se a uma metodologia mista, que incluiu a aplicação de inquéritos por questionário aos jornalistas do Correio da Manhã, e a realização de entrevistas semiestruturadas a diversos especialistas. Assim, os resultados ressaltam, sobretudo: (1) que existem vários mecanismos de combate formais em Portugal, que protegem e apoiam os jornalistas, apesar de terem algumas fragilidades; (2) os jornalistas do Correio da Manhã, de forma genérica, estão cientes do que é o assédio e como este se manifesta; (3) o assédio moral é um fenómeno recorrente no quotidiano dos jornalistas, afeta sobretudo mulheres, profissionais mais novos e em posições de maior visibilidade, é praticado, especialmente, por superiores hierárquicos e produz, principalmente, efeitos na saúde mental da vítima; e, por último, (4) os jornalistas tendem, sobretudo, a adotar estratégias defensivas, em detrimento das de confronto.

The media ecosystem has been marked by the presence of a horrible crime, which has been going on for decades, and whose impacts are not only on information professionals. This crime is workplace harassment, a form of violence that leaves severe marks on professionals and their well-being, especially mental well-being, reduces their freedoms, conditions information and, consequently, affects journalism, one of the main pillars of democracy. The aim of this report is to explore the presence and characteristics of workplace harassment in the daily lives of Portuguese journalists, particularly those working at Correio da Manhã, to find out about the trends in this harassment, professionals’ perceptions of it and what formal and informal mechanisms exist to combat the phenomenon. In order to achieve these objectives, a mixed methodology was used, which included questionnaire surveys of Correio da Manhã journalists and semi-structured interviews with various experts. Thus, the findings suggest: (1) that there are several formal anti-harassment mechanisms in Portugal, which protect and support journalists, despite having some weaknesses; (2) journalists at Correio da Manhã are generally aware of what harassment is and how it manifests itself; (3) moral harassment is a recurring phenomenon in journalists’ daily lives, it mainly affects women, younger professionals and those in more visible positions, it is practiced especially by hierarchical superiors and mainly produces effects on the victim’s mental health; and, finally, (4) journalists tend to adopt defensive strategies rather than confrontational ones.