Do Imperceptível: Uma analítica da comunicabilidade na Anorexia Nervosa

Abstract

A presente investigação propõe uma análise do que se designa por dimensão imperceptível da comunicação na anorexia nervosa. Opondo-se à configuração identitária da doença, insiste-se na sua compreensão enquanto projecto de subjectivação, iminentemente dinâmico e relacional. Nestes termos, pretende-se uma problematização da auto-restrição alimentar - fundamento pulsional da anorexia - e restantes dimensões subjectivas que permitem ao indivíduo afirmar-se na condição de sujeito anoréctico. Longe de uma historiografia das doenças do comportamento alimentar, a investigação aspira à articulação sujeito-comunicabilidade-cultura, compreendendo que a constituição subjectiva do projecto anoréctico é de natureza atmosférica, isto é, necessariamente atida às estruturas do espaço contemporâneo. Ao analisar os elementos imperceptíveis do discurso, parte-se do levantamento e escrutínio do que é comunicado - dito e não-dito - por sujeitos anorécticos, sendo a constituição de um corpus de análise uma implicação e um resultado do cuidado prestado ao lugar da boca na anorexia: ao registar-se, através da recolha de impressões em entrevistas, o discurso anoréctico inscreve-se no que permanece como resquício intersticial da experiência anoréctica - a pulsão vivificante que se tece no comer nada.

This research proposes an analysis of what we call the imperceptible dimension of communication in anorexia nervosa. Against the identitarian configuration of the disease, we comprehend it as a subjectivation process - dynamic and relational. Therefore, researching anorexia requires questioning food self-restriction - the core pulsing aspect of anorexia - and other subjective elements as part of presenting oneself as anorectic subject. Far from the historiographic approach to eating disorders, there is an aspiration to articulate subject-communicability-culture, assuming the subjective formation of the anorectic project has an atmospheric nature. That means that it is eminently influenced by the properly contemporary structures of the present moment. By analyzing the imperceptible elements of discourse, we identify and scrutinize what is communicated - said and not said - by anorectic subjects, through a solid corpus that results from a meticulous consideration of the mouth in anorexia: registering the impressions assembled in interviews, the anorectic discourse inscribes itself in what remains as the breaching reminiscent framework of the anorectic experience - the vivifying pulsation that is written in eating nothing.