Bruxelas vs. Infodemia: Avaliação da resposta da Comissão Europeia à desinformação sobre vacinas anticovid-19

Abstract

A pandemia de covid-19 impactou a União Europeia (UE) ao nível sanitário e económico, mas também ao nível mediático, dada a acentuada difusão de informação. Na UE, a doença foi acompanhada por um outro fenómeno, a propagação de um elevado número de notícias falsas ou enganosas – com ou sem intenção de provocar danos –, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como Infodemia1 e incidiu nomeadamente sobre as vacinas anticovid-19. A Comissão Europeia, que decidiu avançar com a compra conjunta destes fármacos na UE e ficou responsável pela sua comercialização e distribuição em cooperação com os Estados-membros, foi também a principal instituição europeia a responder à desinformação sobre as vacinas anticovid-19. Nesta dissertação, irei analisar “Qual a avaliação da resposta dada pela Comissão Europeia à desinformação sobre vacinas anticovid-19”, verificando como é que o executivo comunitário, que atuou numa área de competência principal dos Estadosmembros (a saúde pública), respondeu numa fase inicial ao fenómeno das notícias falsas ou enganadoras. Pretendo analisar a resposta dada por parte da instituição supranacional, ao nível da comunicação política, no início do processo de aquisição de doses e de vacinação anticovid-19. Parto para esta análise com a hipótese de que o executivo comunitário, que liderou o processo de decisão política no que toca às vacinas anticovid-19, recorreu à comunicação política – ou seja, à interação dinâmica com os meios de comunicação social e a opinião pública5 – para responder à desinformação sobre a matéria e, assim, chegar aos mass media, que ligam decisores políticos e a opinião pública. A instituição privilegiou esta via em vez de outras, como a comunicação através de outros intermediários, por exemplo responsáveis de autoridades sanitárias, atores políticos ou organizações comunitárias e locais. Outra opção poderia ter sido o recurso a criadores de conteúdos digitais para chegar aos seus públicos. Através de uma abordagem interpretativa, irei caracterizar as medidas adotadas pela Comissão Europeia contra a desinformação sobre a covid-19 e as vacinas contra a doença para avaliar a resposta dada, recorrendo à bibliografia existente, a entrevistas a membros da equipa de comunicação da instituição e a estudos sobre a opinião pública. Embora já exista literatura sobre a Infodemia, inclusive relacionada com as vacinas anticovid-19, a inovação que trago reside numa visão detalhada do processo interno de comunicação política da Comissão Europeia nas respostas dadas a este fenómeno desconhecido da Infodemia por esta instituição supranacional para chegar à sociedade civil através dos media.

The covid-19 pandemic has impacted the European Union (EU) at a health and economic level, but also at a media level, given the widespread dissemination of information. In the EU, the disease was also followed by another phenomenon: the spread of a large number of false or misleading reports – with or without the intention of causing harm – which the World Health Organisation (WHO) has defined as an Infodemic and which has focused in particular on anti-covid-19 vaccines. The European Commission, which decided to go ahead with the joint purchase of these medicines in the EU and became responsible for their marketing and distribution in cooperation with Member States, was also the main European institution to tackle the disinformation on anti-covid-19 vaccines. In this thesis, I will analyse “What is the assessment of the European Commission's response to disinformation about anti-Covid-19 vaccines?”, by evaluating how the EU executive, which acted in an area of primary competence of the Member States (public health), answered at an early stage to the phenomenon of false or misleading news. I intend to analyse the response given by the institution, at the level of political communication, in the beginning of the process of acquiring doses and anti-covid-19 vaccines. I start this analysis with the hypothesis that the EU executive, which led the political decision-making process regarding anti-covid-19 vaccines, turned to political communication – that is, dynamic interaction with the media and public opinion – to tackle the disinformation on the subject and thus reach the mass media, which connects political decision-makers and public opinion. The institution chose this approach over others, such as communication through intermediaries, for instance health authority officials, political actors or community and local organisations. Another option could have been to approach digital influencers to reach their audiences. Through an interpretative approach, I will characterize the measures adopted by the European Commission on disinformation about anti-covid-19 vaccines to evaluate the response given, using existing literature, interviews with members of the institution's communication team and studies on public opinion. Although there is already literature on the Infodemic, including related to anti-covid-19 vaccines, the innovation I bring lies in a detailed view of the European Commission's internal political communication process in the responses given to this unknown phenomenon of Infodemic by this supranational institution to reach civil society through the media.