"Não pode haver neutros!" - O general Vasco Gonçalves na Revolução portuguesa (1974-1975)

Abstract

A presente dissertação tem como objeto de estudo a formação e o desenvolvimento de um sujeito político em Vasco Gonçalves, no concernente aos dois anos em que a Revolução portuguesa se processou (1974-1975). O ponto de partida, para o exercício que nos propomos fazer, escorou-se no pressuposto fundamental de que o sujeito político emergente em Vasco Gonçalves, enquanto sujeito-agente do processo revolucionário português, não se desenvolve arredado do processo e do contexto que o ladeou: antes é um “produto” de um período historicamente condicionado como foi o biénio revolucionário português. Destarte, os diversos desdobramentos e diferentes conceções que o sujeito político em Vasco Gonçalves irá sofrer e assimilar, durante a cronologia em estudo, são dialeticamente influenciados pelas idiossincrasias das diferentes fases que a Revolução portuguesa foi concebendo. Os avanços e refluxos qualitativos que o processo revolucionário português experienciou na sua dinâmica particular, na ação das massas populares num quadro agudo e generalizado de luta de classes, refletem-se também ao nível de um sujeito político em desenvolvimento, uma vez que Vasco Gonçalves se assume, em gradual ascensão, enquanto “agente orgânico” das classes trabalhadoras portuguesas: nesse sentido, elas próprias em conluio com o MFA condicionarão indelevelmente a formação e o desenvolvimento de um sujeito político. Assim sendo, através da sua trajetória político-ideológica enquanto Primeiro-ministro dos II, III, IV e V Governos Provisórios entre 1974 e 1975, dos seus discursos proferidos enquanto tal, em que convocamos a história e a memória da Revolução portuguesa, aferiremos analítica e concetualmente a formação de uma subjetividade revolucionária no desenvolvimento de um sujeito político em Vasco Gonçalves em incessante mutação, exteriorizada em locais tão paradigmáticos como o Sabugo ou Almada.

This dissertation has as an object the formation and the development of Vasco Gonçalves as a political subject, namely during the 2 years of the Portuguese Revolutionary process (1974-1975). The starting point is anchored on the fundamental assumption that this political subject emergent on the figure of Vasco Gonçalves, understood as subject-agent of the Portuguese revolutionary process, did not emerge in estrangement from both the process and context in which it emerged: rather, it is dealt with as the “product” of a historically specific and conditioned period just as the biennial revolutionary process. Hence, the several disentanglements through which this political subject will emerge are dialectically influenced by the different idiosyncrasies that the Portuguese revolution conceived. The process, shaped by heightened and generalized class struggles, inscribes itself into this developing political subject since Vasco Gonçalves will progressively be considered as an “organic agent” of the Portuguese working classes: these classes themselves with the MFA will inevitably shape the development of a political subject. Therefore, through his political and ideological trajectory as the Prime-Minister of the II, III, IV and V Provisional Governments between 1974 and 1975, analysed through his speeches and the evocation of the history and memory of the Portuguese Revolution, we will analytically and conceptually assess the definitive development of a revolutionary subjectivity within the incessant mutation of Vasco Gonçalves as political subject that left its mark in paradigmatic places such as Sabugo or Almada.