O Espetador na Revolução. Contributos para história de uma participação por vir

Abstract

A presente tese procura repensar os modos como tomamos parte na política e na arte através da análise – simultaneamente genealógica e prospetiva – de alguns momentos onde a figura do espetador se relaciona, de modo direto, com os eventos revolucionários. A primeira parte é dedicada ao Serment du Jeu de Paume, uma pintura (inacabada) que pretendia celebrar um dos episódios que marcaram o início da Revolução Francesa. Atendendo à inclusão, na composição, de várias figuras que observavam a cena do juramento, examinamos a separação que Jacques-Louis David aqui estabelecia entre os atores políticos e o “espetador da revolução”, mas também as oscilações que existiam entre eles. A segunda parte aborda o Cinema Tahrir, um conjunto de sessões cinematográficas que tiveram lugar na praça Tahrir durante uma reocupação desse espaço na sequência do levantamento de 2011. Tendo em conta a ligação que ocorria, durante as projeções, entre a experiência dos espetadores (marcada pela troca e pela partilha) e a experiência dos manifestantes (marcada pela vulnerabilidade e pela interdependência), analisamos como os gestos mais comuns (aparecer e olhar) se transformavam, aqui, num exercício político de direitos por parte do “espetador-manifestante”. Esta tese pretende, assim, afirmar a importância da participação ao mesmo tempo que questiona a dicotomia entre o ativo e o passivo. Uma dicotomia que não só prolonga as relações históricas de poder (como o androcentrismo e o orientalismo), como se arrisca a ser capturada pela lógica capitalista de uma atividade permanente. Por essa razão dirigimos a nossa atenção para as interseções entre os espetadores (geralmente associados à passividade) e as revoluções (habitualmente tidas como momentos de atividade intensa), na esperança de que essas interseções possam constituir um contributo para uma participação por vir.

cs and art through the analysis – simultaneously genealogical and prospective – of some moments where the figure of the spectator is directly related to revolutionary events. The first part is focused on the Serment du Jeu de Paume, an (unfinished) painting that celebrates an episode from the beginning of the French Revolution. Taking into account the inclusion, in the composition, of several figures who observe the scene of the oath, we examine the separation established by Jacques-Louis David between the political actors and the “spectators of the revolution”, but also the oscillations that existed between them. In the second part, we address the Tahrir Cinema, a series of cinematographic projections that took place in Tahrir square during a reoccupation of that space after the 2011 revolt. Taking into consideration the connection between the spectators' experience (of exchange and sharing) and the protesters' experience (of vulnerability and interdependence), we analyze how the most common gestures (to appear and to look) are transformed, here, into an exercise of political rights by the "spectator-protester". This thesis thus aims to affirm the importance of participation while questioning the maintenance of the dichotomy between the active and the passive. A dichotomy that not only extends historical power structures (such as androcentrism and orientalism) but that can be easily captured by the capitalist logic of continuous activity. For this reason, we direct our investigation to the intersections between the spectators (generally considered as an example of passivity) and the revolutions (generally considered as an example of activity), in the hope that these intersections can offer us a contribution to a participation to come.