Utilize este identificador para referenciar este registo: http://hdl.handle.net/10362/158446
Título: Sob o signo da desumanização: uma crítica decolonial da icnografia colonial brasileira a partir das imagens de Jean-Baptiste Debret e outros artistas viajantes do século XIX e uma nova leitura para a História da Arte Brasileira
Autor: Nahm, Barbara Cristine
Orientador: Ramos, Afonso Dias
Palavras-chave: Iconografia brasileira do século XIX
Arte contemporânea brasileira
Jean- Baptiste Debret
Rosana Paulino
Teoria decolonial
19th century Brazilian iconography
Contemporary Brazilian art
Decolonial theory
Data de Defesa: 4-Mai-2023
Resumo: Este trabalho reflete sobre o modo como a produção iconográfica de artistas viajantes no Brasil durante o século XIX perpetuou o olhar colonial do país, e como a circulação destas imagens continua a afetar os povos representados até hoje. A criação artística brasileira contemporânea tem vindo a apontar para a necessidade de revisitar a iconografia proposta por artistas europeus que viveram no Brasil no século XIX com o intuito de questionar obras que, maioritariamente, representaram os povos indígenas e africanos escravizados1 à margem da sociedade. Orientado principalmente por metodologias oriundas dos estudos decoloniais, do feminismo negro e da historiografia da arte, o presente trabalho propõe uma reflexão crítica sobre o discurso visual criado no âmbito da representação das mulheres africanas e afro-brasileiras escravizadas no contexto do Brasil Colônia. Tendo em conta o objetivo desta pesquisa, são propostas problematizações a partir da gravura Une visite a la campagne (1835), parte de “Voyage Pittoresque et Historique au Brèsil” (publicado na França entre 1834 e 1839) do pintor oitocentista francês Jean-Baptiste Debret, que viveu no Brasil entre os anos de 1816 e 1831. Tais críticas encontram lugar na forma como a imagem é interpretada sob o olhar contemporâneo, a partir dos recortes de raça e gênero. Enquanto contraponto crítico à produção visual realizada pelos artistas viajantes do século XIX, apresenta-se a obra As Gentes, de Rosana Paulino, presente no livro de artista ¿História Natural? (2016). A partir da contraposição das imagens, este trabalho questiona se a circulação e reprodução acrítica das obras destes artistas viajantes influenciou na reprodução de estigmas sobre a figura das mulheres africanas e afrodescendentes no contexto brasileiro. Entre os resultados encontrados, identificou-se a relação próxima entre os alicerces da História da Arte Brasileira e os artistas da Missão Artística Francesa (MAF), da qual Jean-Baptiste Debret fazia parte, motivo pelo qual sua obra era amplamente valorizada em território nacional. A confiança na obra deste pintor francês, e de outros que viviam em contexto similar, levou a uma ampla reprodução acrítica de imagens do contexto do Brasil Colônia, ignorando, muitas vezes, a subjetividade do sujeito representado, que vivia sob a violência do sistema escravocrata colonial brasileiro. Com o avanço das pesquisas orientadas ao reposicionamento epistêmico das ciências sociais na América Latina, relativas à denúncia das violências coloniais, ampliam-se também as reflexões temáticas no campo da arte, criando, nas palavras de María Lugones, um “lócus fraturado” na produção artística brasileira, observável ainda hoje como, por exemplo, na imagem As Gentes de Rosana Paulino. Reconhece-se, portanto, que a produção contemporânea brasileira tem realizado um trabalho de resistência denunciando as violências propagadas pela iconografia brasileira elaborada por artistas viajantes no século XIX.
This research reflects over how the iconographic production of traveling artists in Brazil during the 19th century perpetuated the colonial gaze over the country, and how the circulation of these images continues to affect to this day the peoples represented. The contemporary Brazilian artistic creation has been pointing to the need of revisiting the iconography proposed by European artists who lived in Brazil in the 19th century with the aim of questioning works that mostly represented indigenous and enslaved2 African people on the margins of society. Guided mainly by methodologies derived from decolonial studies, black feminism and art historiography, this work proposes a critical reflection on the visual discourse created within the scope of the representation of enslaved African and Afro-Brazilian women in the context of Colonial Brazil. Considering the objective of this research, problematizations are proposed based on the engraving Une visita a la campagne (1835), part of “Voyage Pittoresque et Historique au Brèsil” (published in France between 1834 and 1839) by the nineteenth-century French painter Jean-Baptiste Debret, who lived in Brazil between 1816 and 1831. Such criticisms find a place in the way the image is interpreted from a contemporary perspective, based on race and gender. As a critical counterpoint to the visual production carried out by traveling artists of the 19th century, is the piece As Gentes, by Rosana Paulino, presented in the artist's book ¿História Natural? (2016). From the contrast of the images, this work questions whether the circulation and uncritical reproduction of the works of these traveling artists influenced the reproduction of stigmas about the figure of African and Afro-descendant women in the Brazilian context. Among the results found, a close relationship was identified between the foundations of the History of Brazilian Art and the artists of the French Artistic Mission (MAF), of which Jean-Baptiste Debret was part, which is why his work was widely valued in national territory. The belief in the work of this French painter, and others who lived in a similar context, led to a wide uncritical reproduction of images of Colonial Brazil, often ignoring the subjectivity of the represented subject, who lived under the violence of the slave system in Colonial Brazil. With the advancement of research aimed at the epistemic repositioning of social sciences in Latin America, related to the denunciation of colonial violence, thematic reflections in the field of art also expand, creating, in the words of María Lugones, a “fractured locus” in the production Brazilian artistic expression, still observable today, as, for example, in the image As Gentes by Rosana Paulino. It is recognized, therefore, that contemporary Brazilian production has been working in the resistance and denouncing the violence propagated by Brazilian iconography created by traveling artists in the 19th century.
URI: http://hdl.handle.net/10362/158446
Designação: Mestrado em Estética e Estudos Artísticos, especialização em Artes e Culturas Políticas
Aparece nas colecções:FCSH: DF - Dissertações de Mestrado

Ficheiros deste registo:
Ficheiro Descrição TamanhoFormato 
Dissertac a o - Barbara Nahm - versão final.pdf2,12 MBAdobe PDFVer/Abrir


FacebookTwitterDeliciousLinkedInDiggGoogle BookmarksMySpace
Formato BibTex MendeleyEndnote 

Todos os registos no repositório estão protegidos por leis de copyright, com todos os direitos reservados.