Claudino Augusto Carneiro de Sousa e Faro: diretor de Obras Públicas e administrador da Roça Água Izé, subsídios para o conhecimento biográfico

Abstract

O objetivo do nosso trabalho é contribuir para o conhecimento biográfico de Claudino Augusto Carneiro de Sousa e Faro (n. Ribandar, Goa, 1840, † Nice, França, 1919), e entender a vida e obra deste militar, engenheiro, professor, deputado, diretor e inspetor de Obras Públicas do Ultramar e administrador da Roça de Água Izé, em São Tomé e Príncipe, luso-descendente nascido em Goa, mas que exerceu a sua profissão em diversos territórios do antigo império colonial português. Sabemos que o século XIX foi para Portugal um período muito importante na ocupação de África e o principal interesse ultramarino focou-se no hinterland africano. Esse foco foi determinado pela realização da Conferência de Berlim (1884-1885), originada pela corrida a África pelas potências europeias. Portugal acatou as decisões resultantes da cimeira, particularmente, a lei de ocupação efetiva do território. A salvaguarda de tal princípio, levou ao desenvolvimento da política de Obras Públicas, assumida por Portugal, no contexto da reconfiguração do seu império, no último quartel do século XIX, com novas intenções económicas e formas de exploração de recursos. Portugal desenvolveu assim um novo paradigma de administração, promovendo missões nas províncias de Angola, Cabo-Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, onde se relevou a importância dos serviços a desenvolver e a competência dos engenheiros militares na consecução de obras e projetos. Na pesquisa de mais elementos sobre Claudino de Sousa e Faro, que consubstanciassem os já existentes, o nosso trabalho procurou conhecer melhor, em primeiro lugar, o seu contexto social e académico em Goa, Índia, onde nasceu, estudou e ensinou na Escola de Matemática e Militar de Goa e, posteriormente, sobre as suas vivências em território africano, onde exerceu o cargo de diretor de Obras Públicas em Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, de inspetor das Obras Públicas do Ultramar e, também, as funções de administrador da Roça Água Izé, na ilha de São Tomé. Essencialmente, pretendemos conhecer a carreira colonial de Claudino de Sousa e Faro e o impacto da sua ação em territórios coloniais do império português, uma vez que representa um grupo de homens profissionais ao serviço de Portugal, que deixaram um legado significativo no mapeamento territorial e no estudo das potencialidades económicas dos territórios ultramarinos. Para encetar o estudo recorremos à análise bibliográfica e documental no Arquivo Histórico Ultramarino, no Arquivo Histórico Militar, no Arquivo Histórico Parlamentar, no Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe, no Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde e na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa bem como a alguns trabalhos académicos e a vasta bibliografia, de forma a concentrar informação dispersa.

The purpose of our work is to contribute to a deepened biographical knowledge of Claudino Augusto Carneiro de Sousa e Faro (b. Ribandar, Goa, 1840, † Nice, France, 1919), that allows us to understand the life and work of this military man, luso-descendant born in Goa, engineer, professor, member of parliament, director and Overseas public works inspector and administrator of Roça de Água Izé in São Tomé and Príncipe, who also exercised his profession in various territories of the former Portuguese colonial empire. It’s a known fact that 19th century was a very important period in the occupation of. Africa for Portugal, with the main interest focused on the African hinterland. This focus was determined by the occurrence of the Berlin Conference (1884-1885), originated by the scramble for Africa by European powers. Portugal complied with the decisions resulting from the conference, particularly the law of effective occupation of the territory. The safeguarding of such a principle led to the development of the public works policy, taken by Portugal, in the context of the reconfiguration of its empire, in the last quarter of the 19th century, with new economic intentions and ways of exploiting resources. Portugal develops a new paradigm of administration, promoting missions in the provinces of Angola, Cape-Verde, Mozambique and São Tomé and Príncipe, where the importance of the services to be developed and, by inherence, the competency of military engineers in the achievement of works and projects. In the search of more elements about Claudino de Sousa e Faro, that consubstantiated the already existing ones, our work sought to better understand, in first place, his academic and social context in Goa, India, where he was born, studied and worked as a professor in the Escola de Matemática e Militar de Goa [Mathematical and Military School of Goa] and, later, his life in African territory, where he held the position of public works director in Angola, Cape Verde and São Tomé and Príncipe, of public works inspector of the Overseas and also the job of administrator of the farm Roça Água Izé, in São Tomé island. Essentially, we intend to know the colonial career of Claudino de Sousa e Faro and the impact of his action in colonial territories of the Portuguese Empire which left a significant legacy of territorial mapping and surveying the economic potential of overseas territories. In the course of this study, we carried on the biographical and documental analysis at the Arquivo Histórico Ultramarino [Overseas Historical Archive], at the Arquivo Histórico Militar [Military Historical Archive], at the Arquivo Histórico Parlamentar [Parliamentary Historical Archive and, at the Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe [Historical Archive of São Tomé and Príncipe, at the Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde [National Historical Archive of Cape Verde] and at the Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa [Library othe Geography Society of Lisbon], as well as some thesis works, academic works and an extensive literature in order to concentrate dispersed information.