Identidade narrativa e representação: a alteridade dos corpos negros, latinos e não-normativos em Pose

Abstract

Neste momento em que estão cada vez mais em evidência personagens LGBTQIA+, este trabalho tem o objetivo de identificar os aspectos e condições da representação que a série de TV norte-americana Pose (2018-2021) faz de sujeitos marginalizados em relação às identidades sexual e de gênero. Neste sentido, buscamos compreender as influências que essa presença na tela levou à identidade narrativa e ao exercício de alteridade de pessoas LGBTQIA+. Tendo a primeira temporada da série como corpus, utilizamos três técnicas de análise com abordagem qualitativa e indutiva: estudo das personagens e equipe técnica, análise fílmica e análise de conteúdo. À luz dos filósofos Michel Foucault, Giorgio Agamben e Gilles Deleuze, trabalhamos a cultura e os meios de comunicação como dispositivos afins na construção e enunciação do sujeito, o que repercute em padrões normativos, mas também nas consequentes linhas de fuga produzidas por sujeitos e comportamentos desviantes. A fim de tratar de outro tema caro a esta pesquisa, a narrativa, utilizamos as referências de Aristóteles e sua Poética, com o duplo conceito do mythos-mimesis; Paul Ricoeur e a defesa da narratividade como mediação privilegiada; e Richard Kearney a demonstrar a infinitude da narrativa enquanto contadora de histórias humanas. Depois, retomamos Foucault e a definição do dispositivo de sexualidade; como também referimos os estudos de Judith Butler sobre a construção de uma identidade variável; e Paul B. Preciado a respeito da contrassexualidade e sua oposição à verdade biológica e normativa. Por fim, analisamos se houve contribuições de Pose não apenas para aumentar numericamente a diversidade LGBTQIA+ na televisão, como ainda quanto a um discurso político de mudança das estruturas hegemônicas, principais responsáveis para que alguns corpos sejam mais válidos do que outros, conforme esses atendam aos desejos de normatização.

Nowadays as LGBTQIA+ characters are increasingly in evidence, this work aims to identify aspects and conditions of the representation found in the TV series Pose (2018-2021) about marginalized subjects in relation to sexual identity and gender. In this sense, we seek to understand how that screen presence influenced identity and exercise of otherness of LGBTQIA+ people. Therefore, we defined the first season of the series as our research corpus and applied three analysis techniques with a qualitative and inductive approach: character and technical crew study, film analysis and content analysis. In the light of philosophers Michel Foucault, Giorgio Agamben and Gilles Deleuze, we work with the concept that culture and media are related devices in subject´s construction and enunciation which has repercussions on normative standards, but also on the consequent lines of escape produced by deviant subjects. In order to address narrative and its importance to this research, we use references from Aristotle and his Poetics, with concept of mythos-mimesis; Paul Ricoeur and his defense of narrativity as a privileged mediation; and Richard Kearney, who demonstrates how narrative will never come to an end through its role as a human storyteller. Afterwards, we return to Foucault and his definition of device of sexuality; as well as Judith Butler´s studies on construction of a variable identity; and Paul B. Preciado on countersexuality and its opposition to biological sex and normative aspects of sexual and gender identity. Finally, we analyze whether there were contributions by Pose on increasing LGBTQIA+ diversity in numbers, as well in terms of a political speech of changing hegemonic structures, who have great responsibility in the fact that some bodies are more valid than others as long as they meet the requirements for standardization imposed.