Utilize este identificador para referenciar este registo:
http://hdl.handle.net/10362/14483
Título: | Brucelose na Província do Namibe, Angola, 2012: prevalências humana (profissionais da pecuária) e animal, factores de risco, conhecimento e práticas |
Autor: | Mufinda, Franco Cazembe |
Orientador: | Nunes, Carla Boinas, Fernando |
Palavras-chave: | Brucelose Prevalências humana e animal Conhecimento Factores de risco Namibe Angola Brucellosis Human and animal prevalences knowledge Risk factors Namibe Angola |
Data de Defesa: | 2014 |
Resumo: | RESUMO - Enquadramento: A Brucelose é uma antropozoonose prevalente no Mundo e é uma das
mais negligenciadas. A sua transmissão ao ser humano é directa e indirecta, e acontece por
via de contacto com animal infectado, o consumo de leite e seus derivados não
pasteurizados e a não observância de uso de equipamentos de protecção individual e
colectiva, entre outros factores. O conhecimento da prevalência e incidência da brucelose
animal e humana no Namibe, uma província de Angola, é muito escasso sendo poucos os
estudos que evidenciam esta doença no seio dos profissionais da pecuária expostos:
trabalhadores de matadouros, veterinários e criadores de gado. É assim pertinente, com
base em estudos científicos específicos, caracterizar esta situação.
Objectivos: Caracterizar os ambientes dos profissionais (matadouro, talhos e salas
municipais de abate e explorações); estimar a seroprevalência da brucelose humana em
profissionais da pecuária (trabalhadores de matadouros e criadores de gado bovino) na
província do Namibe, Angola em 2012; determinar a associação da presença da brucelose
humana com variáveis sócio-demográficas, de conhecimento, de práticas e de
características das explorações; determinar a prevalência da Brucelose em animais e em
explorações; caracterizar os factores associados à presença da Brucelose em explorações
bovinas; caracterizar o conhecimento e práticas sobre a Brucelose dos profissionais da
pecuária e analisar a relação entre as prevalências nas explorações (infectadas versus não
infectadas) e nos criadores (infectados versus não infectados).
Métodos e materiais: estudos observacional e transversal seroepidemiológico em 131
trabalhadores de talhos, salas de abate e matadouro e 192 criadores amostrados
aleatoriamente em toda província do Namibe. Os dados foram obtidos através da colheita
de sangue e da aplicação de um questionário. Os testes laboratoriais utilizados foram o
Rosa de Bengala (RBT) e a Aglutinação Lenta em Tubos (SAT). O estudo de
conhecimento foi principalmente centrado na pergunta “Já ouviu falar de Brucelose” e nas
questões relativas ao nível de conhecimento e práticas (indicadores baseados nas
percentagens de respostas correctas ou práticas adequadas) dos factores de risco da
Brucelose. Também foram investigados 1344 animais (em 192 explorações) com recurso ao método
de diagnóstico laboratorial RBT para análise de soro sanguíneo e, complementarmente, foi
aplicado um questionário aos respectivos criadores. Em termos de análise estatística, para
além da abordagem descritiva, foram utilizados os testes de Independência do Quiquadrado,
Fisher, Teste não paramétrico de Mann-Whitney, Teste de correlação de
Spearman. Adicionalmente, com base em modelos de regressão logística, foram
determinados odds ratio e os respectivos intervalos de confiança utilizando um nível de
significância de 5%.
Resultados: os ambientes dos profissionais (matadouro, talhos e salas municipais de abate
e explorações) não reuniram as condições higio-sanitárias definidas internacionalmente
como adequadas. Nos profissionais a infecção geral ponderada da Brucelose foi de 15.56%
(IC95% : 13.61-17.50), sendo 5.34% em trabalhadores e 16.66% (IC95% : 11.39-21.93)
em criadores. A significância estatística foi observada entre a seroprevalência humana e a
categoria (trabalhador e criador) (p< 0.001) e o nível de instrução (p= 0.032), início de
actividade (p= 0.079) e local de serviço (p= 0.055). Num contexto multivariado o factor
positivamente associado à brucelose em profissionais foi a categoria profissional (OR =
3.54, IC95%: 1.57-8.30, relativo aos criadores em relação a trabalhadores). As taxas gerais
aparentes de prevalência em animais e explorações foram respectivamente de 14.96% (IC
95%, 12.97-17.19) e de 40.10% (IC 95%, 32.75-47.93). Encontrou-se uma correlação
positiva moderada entre o número de animais infectados por exploração com a média do
número de abortos na exploração = 0.531, p< 0.001). Em média os profissionais
tiveram um conhecimento global muito insuficiente (16.1%), tendo os trabalhadores
apresentado valores mais elevados que os criadores (20.2% e 13.8%), diferença não
estatisticamente significativa (p= 0.170). As perguntas “o leite in natura é fervido antes do
consumo humano?”, “contacto com materiais fetais animais?”, “contacto com aerossóis no
local de trabalho?” e “já fez alguma vez o teste de Brucelose humana?” (relacionadas com
práticas) e as perguntas “já ouviu falar da Brucelose?”, “Brucelose é doença zoonótica/só
animal/só humana? e “como a Brucelose se transmite aos humanos?” apresentaram níveis
médios de práticas adequadas e conhecimentos correctos inferiores a 20%. Nas
explorações infectadas, 39% dos criadores foram positivos (infectados) e nas não
infectadas apenas 1.7%. O risco de um criador ser infectado estando numa exploração
infectada foi significativamente mais elevado (OR= 36, IC95%: 8.28-157.04). Conclusões: os ambientes dos profissionais (matadouros, salas municipais de abate e
talhos e explorações) propiciam o risco à brucelose. O estudo permite aferir que a
Brucelose humana em profissionais da pecuária e a Brucelose animal são prevalentes na
província do Namibe. Os níveis de seroprevalência detectados são elevados comparandoos
com outros encontrados em algumas localidades africanas que possuem condições
similares às do Namibe. Perto de duas em cada cinco (40.10%) explorações estão
infectadas por esta doença. O número de abortos (média) está claramente relacionado com
as explorações infectadas. O conhecimento geral dos profissionais da pecuária sobre a
Brucelose é muito insuficiente, tendo os trabalhadores mostrado um maior conhecimento
em relação aos criadores, mas ambos com níveis alarmantes. Os criadores infectados estão
relacionados com as explorações infectadas. Há necessidade de controlar a doença e de
informar e educar os profissionais sobre a brucelose, sendo fundamental que os serviços
provinciais de veterinária reforcem acções de divulgação e de fiscalização. ABSTRACT - Aims: Brucellosis is a disease with a worldwide distribution and one of the most neglected zoonosis. It is transmitted to people by direct or indirect contact with infected animals, ingestion of contaminated unpasteurized milk or dairy products and through the lack of individual or collective protection gear among other factors. Knowledge about animal and human brucellosis prevalence and incidence in the Namibe province of Angola is very limited, with very few studies showing the disease among exposed professionals: slaughterhouse workers, veterinarians and stockpersons. Hence it is relevant to characterize the situation through specific science studies. Objectives: Characterize the conditions of workers of slaughterhouses, butchers and farms; to estimate human brucellosis seroprevalence in professionals (workers of slaughterhouses, butchers and farms) in the Namibe province of Angola in 2012; to determine the relationship between brucellosis and several socio-demographic variables, level of knowledge about the disease, working practices and farm characteristics; to determine prevalences of bovine animal brucellosis and at farm level; to outline risk factors associated with farms with cattle; to characterize the level of knowledge and the practices associated with brucellosis in farming professionals and analyze the relationship between the farms (infected versus uninfected) and breeders (infected versus uninfected). Methods and materials: observacional and cross-sectional seraepidemiogical studies of 131 professionals working in slaughterhouses, abattoirs and butcher shops and 192 stockmen randomly selected from throughout the Namibe province. Data was obtained through blood sampling and survey filling in across the entire region. Diagnostic laboratory tests used were Bengal Rose (RBT) and serum agglutination test (SAT). The study on disease awareness was centred on the question “Have you ever heard of Brucellosis?” and on the level of knowledge, based on the percentage of correct answers. The study on disease awareness was centred on the question "Have you heard of Brucellosis" and questions relating the level of knowledge and practices (indicators based on percentages of correct answers and good practices) of the risk factors of Brucellosis. Furthermore 1344 animals were blood sampled and serum tested for brucellosis with the Bengal Rose test. A questionnaire was also administered to stockman from 192 farms. After describing the data main features (descriptive statistics) the Chi-Square Tests of Independence, the Fisher Test, the non-parametric Mann-Whitney Test and the Spearman Correlation Test were used. Logistic regression models allowed for the determination of odds ratio and the respective confidence intervals with a significance level of 5%. Results: the hygienic and sanitary conditions in slaughterhouses and butchers didn´t have the conditions defined by international laws. The professionals overall seroprevalence was 15.56% (IC95% : 13.61-17.50) with abattoirs/butchers workers having 5.34% and stockmen showing 16.66% (IC95% : 11.39-21.93). There were significant differences in seroprevalence when comparing: abattoir workers and stockperson (p< 0.001); level of instruction (p=0.032); age at onset of working activity (p=0.079) and place of work (p=0.055). After multivariant analysis it was shown that the factor most strongly associated with infection was the type of work (OR = 3.54, IC95%: 1.57-8.30, workers versus stockperson). Brucellosis prevalence amongst all animals sampled and inside in each farm were, respectively, 14.96% (IC 95%, 12.97-17.19) and 40.1% (IC 95%, 32.75-47.93). A positive correlation between the infection rate and the prevalence of abortions at the farm was found = 0.531, p< 0.001). In general professionals showed insufficient knowledge of the disease (16.1%) with abattoir workers showing a higher but not significant (p= 0.170) percentage when compared with stockpersons (20.2% and 13.8%). Questions “Is raw milk boiled prior to human consumption?”, “Contact with animal afterbirth?”, “Contact with aerosols in working place?”, and “Were you ever tested for human brucellosis?” (working practices) and questions “Have you ever heard of Brucellosis?”, “Is brucellosis a disease: zoonosis/only animal/only human?” and “How is Brucellosis transmitted to humans?” displayed mean levels (good practices and correct answers of knowledge) under 20%. In the infected farms, 39% of farmers were positive (infected) and non-infected only 1.7%. The risk of breeder being infected in infected farm was significant high (OR= 36, IC95%: 8.28-157.04). Conclusions: this study shows that slaughterhouse and butchers provide brucellosis risk. Human brucellosis among professionals working with cattle and animal brucellosis are prevalent in the Namibe province. The seroprevalenece level is high when compared with values found in other African regions with similar conditions as Namibe. Almost two out of five farms (40.10%) are infected with brucellosis. The number of abortions is clearly associated with infected farms. The global knowledge of the disease among professionals in alarmingly low, with abattoir workers showing a little more perception than stockpersons. Infected breeders are related to the infected farms. There is an urgent need to control this zoonosis, to increase awareness of the disease among professionals and to increase supervision and information dissemination by the provincial veterinary services. |
URI: | http://hdl.handle.net/10362/14483 |
Designação: | Doutoramento em Saúde Pública. Especialidade em Epidemiologia |
Aparece nas colecções: | ENSP - Teses de Doutoramento |
Ficheiros deste registo:
Ficheiro | Descrição | Tamanho | Formato | |
---|---|---|---|---|
RUN - Tese de Doutoramento - Franco Mufinda.pdf | 10,37 MB | Adobe PDF | Ver/Abrir |
Todos os registos no repositório estão protegidos por leis de copyright, com todos os direitos reservados.