Práticas tradicionais de adaptação às secas no semiárido brasileiro: o caso do município de Triunfo, Pernambuco

Abstract

Nas últimas décadas, as questões hídricas têm integrado a agenda internacional com preocupações a nível da escassezfísica, da qualidade e do acesso, ampliadas, em grande medida, pelas alterações climáticas. Medidas de adaptação têm vindo a ser discutidas para contribuir para a diminuição da vulnerabilidade e aumentar a sustentabilidade social, ambiental e económica das populações e dos ecossistemas, no sentido de enfrentar os eventos climáticos extremos. Os conhecimentos tradicionais sempre foram utilizados para superar as adversidades do clima. Paralelamente, existem cenários e projeções científicas que alertam para o agravamento de fenómenos climáticos extremos – chuvas torrenciais e secas severas – que requerem ações de adaptação, nomeadamente, enquanto garantia para a segurança hídrica. A convivência com situações de escassez de água pode revelar experiências e boas práticas de adaptação às secas. Procurando analisar essas práticas e suas implicações, formulam-se as seguintes questões: As práticas e tecnologias tradicionais de gestão da água podem contribuir na resposta aos problemas de escassez hídrica agravados pelas alterações climáticas? Essas práticas podem diminuir a vulnerabilidade às secas? A investigação tem por objetivo identificar e analisar práticas e tecnologias tradicionais utilizadas para fazer face à escassez de água como medidas de adaptação às secas e foi realizada tendo por base o método histórico e o estudo de caso, no município de Triunfo, localizado na região Semiárida de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Tradicionalmente, estas práticas enfatizam o papel da mulher a nível da gestão da água familiar; a cultura de armazenagem da água das chuvas, sementes e grãos; a reutilização de águas cinzentas; as interferências das secas nas mudanças de hábitos quotidianos e na produção agrícola; o respeito e a valorização da água; os processos conflituosos, mas também de entreajuda; diversidade de práticas e tecnologias tradicionais. A investigação permitiu concluir que os conhecimentos tradicionais são importantes no processo da compreensão das relações sociais com a água, principalmente, em momentos de escassez. Desse modo, a aumentar a resiliência dos povos sertanejos às secas é necessária uma disseminação de tecnologias sociais articuladas com políticas públicas. Desta forma, as análises podem ser utilizadas como subsídios para reduzir as vulnerabilidades perante as secas, assim como auxiliar nas estratégias de políticas públicas de adaptação. No entanto, existem algumas práticas tradicionais que podem desaparecer, devido aos efeitos das transformações ambientais.

Over the last decades, water issues have integrated the international schedule with concerns about physical scarcity, quality, and access, amplified by climate change. Adaptation measures to reduce vulnerability and increase the social, environmental and economic sustainability of populations and ecosystems are being discussed mainly to face extreme climatic events. Traditional practices and social technologies have always been used to overcome climate adversities. However, scenarios and scientific projections signal the worsening of extreme climatic phenomena – torrential rains and severe droughts – which demand adaptation actions, especially as a guarantee for water security. Traditional coexistence with situations of water scarcity may present experiences and good practices of adaptation to droughts. In order to analyse these practices and their implications, the following questions are made: Can traditional practices and water management technologies contribute to the response to water scarcity problems aggravated by climate change? Can these practices reduce the vulnerability to droughts? This research intends to identify and analyse traditional practices and technologies used in water scarcity periods as measures to adapt to droughts, using the historical method and the case study in the municipality of Triunfo, located in the state of Pernambuco, Northeast Brazil. Traditionally, these practices pointed out the role of women in the management of family water; the culture of storage of rainwater, seeds and grains; the reuse of greywater; the interference of droughts in the changes in daily habits and agricultural production; respecting and valuing water; the conflicts but also mutual help, and the diversity of traditional practices and technologies. The research made it possible to conclude that traditional knowledge is important to understand the social relationships with water, especially in terms of insufficiency, to increase the resilience of sertanejos peoples to droughts, and the need to disseminate social technologies articulated with public policies. This way, the analyses can be used as subsidies to reduce vulnerabilities to droughts and assist in public policy adaptation strategies. However, some traditional practices may disappear due to the effects of environmental changes.