Os/as detentores/as das "Cabeças de Reserva": Retratos de emancipação na hierarquização da elite do Império Antigo

Abstract

Esta dissertação apresenta uma nova proposta de contabilização, catalogação e interpretação das «Cabeças de Reserva», um conjunto escultórico funerário que data da IV à VI dinastias (c.2613-2181) provenientes das necrópoles de Giza, Dahshur, Abusir e Sakara. Através da comparação analítica entre as fontes de estudo e as propostas de catalogação existentes, esta dissertação pretende realçar a inconsistência e incoerência dos métodos/critérios de identificação, registo, enumeração e catalogação das «Cabeças de Reserva». Consequentemente, por intermédio da produção de uma nova catalogação, este estudo procura rever e atualizar esta contagem propondo a introdução de um novo elemento de estudo – as orelhas das «Cabeças de Reserva». Mediante a nova contabilização esta dissertação pretende apresentar uma nova abordagem interpretativa das «Cabeças de Reserva» assente na pergunta: «Quem são os detentores das “Cabeça de Reserva”?». A análise do contexto arqueológico das fontes, assim como a identificação da titulatura e histórico familiar dos detentores das «Cabeças de Reserva», permitiu enquadrar socioculturalmente estes objetos funerários. Esta análise demonstrou que estas cabeças são, individualmente, um retrato do percurso de emancipação do seu detentor, ou seja, de integração vertical na estrutura hierárquica da elite. Simultaneamente, considerando que os seus detentores são agentes políticos e sociais, as «Cabeças de Reserva» retratam a teoria, pensamento e mentalidade, bem como a prática e execução política e social por detrás do «estado» egípcio do Império Antigo. Nomeadamente a respeito das estratégias informais de exercício e manipulação de poder tais como o patronato, redes de contacto e influência, favoritismo, rivalidades e intrigas entre outros.

This dissertation presents a new proposal for the account, catalogue, and interpretation of the «Reserve Heads», a funerary sculpture corpus dating from the 4th to the 6th dynasty (c.2613-2181) from the necropolis of Giza, Dahshur, Abusir and Sakara. Through the analytical comparison between the sources and the existing catalogues this dissertation aims to highlight the inconsistency and incoherence of the methods/criteria of identification, record and cataloguing of the «Reserve Heads». Consequently, through the production of a new catalogue, this study seeks to review and update the number of the 'Reserve Heads' by proposing the introduction of a new element of study: the ears. Bring on by this new count, this dissertation intends to present a new interpretative approach to the 'Reserve Heads' based on the question: «Who are the holders of the “Reserve Heads”?». Therefore, the comprehensive analysis of its archaeological context, as well as the identification of the title and family history of the owners of the 'Reserve Heads' allowed the understanding of the sociocultural framing of these funerary objects. This analysis showed that these heads are, individually, a portrait of their holder's emancipation path, that is, of vertical integration in the elite hierarchical structure. At the same time, since their holders are political and social actors, the 'Reserve Heads' depict the social and political theory and practice the Egyptian state of the Old Kingdom as well as the informal strategies of exercise and manipulation of power such as patronage, networks of contact or influence, favoritism, rivalries, and intrigues, among others.