Adesão ao tratamento nas perturbações psiquiátricas graves: o impacto das atitudes e das crenças de doentes e profissionais de saúde mental

Abstract

RESUMO: O presente trabalho tem como objectivo central a avaliação das atitudes e crenças em doentes com perturbação psiquiátrica grave (PPG) e respectivos profissionais de saúde mental (PSM). Procurou-se estudar o impacto que estes factores podem ter na adesão ao tratamento. Do ponto de vista estrutural, este trabalho divide-se em duas partes: a primeira corresponde à fundamentação e caracterização do contexto do estudo, e a segunda, ao trabalho de campo propriamente dito. Na primeira parte, o autor começa por abordar a temática da adesão ao tratamento, procedendo à caracterização dos aspectos gerais do conceito em termos da sua importância na saúde pública, integrando-o, posteriormente, na área saúde mental. Em seguida são revistos os principais modelos de comportamento e descritos os principais factores que podem afectar a adesão ao tratamento. Nesta sequência, são também apresentados os principais modelos de intervenção dirigidos a doentes com PPG. Motivado pelo reconhecimento consensual da insuficiente resposta que estas abordagens oferecem em termos da melhoria nos resultados relativos ao aumento da adesão ao tratamento nas PPG, o autor explora, por último, numa perspectiva tanto conceptual como metodológica, os factores relacionados com o PSM que podem interferir com esse processo e que têm vindo a ganhar terreno nesta área de investigação. Encerramos esta primeira parte dando especial destaque ao papel que o PSM representa na adesão ao tratamento, evocando directrizes de intervenção actuais dirigidas a este grupo profissional, baseadas na evidência. Na segunda parte da tese, o autor, após fundamentar o trabalho de campo com base numa extensa revisão bibliográfica, define um conjunto de objectivos a operacionalizar na investigação, expressos nas seguintes questões: Amostra I – Indivíduos com PPG: Quais os factores sociodemográficos e/ou clínicos que influenciam a adesão ao tratamento de indivíduos com perturbação psiquiátrica? De que forma é que as atitudes e as crenças dos indivíduos com perturbação psiquiátrica podem influenciar a adesão ao tratamento? Amostra II – PSM: Quais os factores sociodemográficos e/ou profissionais que influenciam as atitudes e as crenças dos PSM? De que forma é que as atitudes e as crenças dos PSM podem influenciar a adesão ao tratamento dos doentes? Quais as estratégias mais comumente utilizadas pelos PSM para aumentar a adesão? De forma a responder a estas questões, foi delineado um estudo transversal, observacional e analítico, composto por duas amostras de conveniência. Na amostra de indivíduos com PPG, procedeu-se à avaliação de 150 doentes com PPG (CID 10), de idade compreendida entre 18 e 65 anos, em tratamento num dos três hospitais seleccionados para o estudo. Foram seleccionadas variáveis da área sociodemográfica e clínica, quantificadas pelos seguintes instrumentos: questionário sociodemográfico original, Morisky Medication Adherence Scale (Morisky, Green e Levine, 1986); Versão portuguesa de Delgado & Lima (2001); Beliefs About Medicines Questionnaire (Horne, Weinman & Hankins, 1997); Versão portuguesa de Pereira & Silva (1999); Brief Psychiatric Rating Scale 4.0. (Ventura, Green, Shaner & Liberman, 1993); Versão Portuguesa de Gusmão et al. (1996); Illness Perception Questionnaire for Psychosis (Lobban, Barrowclough & Jones, 2005); Versão Portuguesa de Cardoso, A.M. (2011). A segunda amostra foi composta por 65 PSM envolvidos na prestação directa de cuidados aos doentes avaliados e que na altura do estudo trabalhavam em um dos três Departamentos de Psiquiatria e Saúde Mental dos hospitais seleccionados. Foram seleccionadas variáveis da área sociodemográfica e profissional, quantificadas através dos seguintes instrumentos: Elsom Therapeutic Optimism Scale (Byrne, Sullivan & Elsom, 2006); Medication Alliance Beliefs Questionnaire (Byrne et al., 2008) e Difficulty Implementing Adherence Strategies (Byrne et al., 2005). O trabalho estatístico dos dados envolveu o estudo descritivo e a execução da análise de correlação bivariada (correlação de Spearman) e a multivariada (regressão linear múltipla) para as duas amostras.

ABSTRACT: The objective of this study was to assess the attitudes and beliefs in patients with serious mental disorders (SMD) and those of their treating mental health professionals (MHP) in order to determine how this impacst upon treatment adherence. From a structural standpoint, this research is divided into two parts: the first part corresponds to the statement of reasons and characterization of the context of the study; and the second in the fieldwork itself. In the first part, the author begins by approaching the theme of treatment adherence, proceeding to the characterization of the general aspects of the concept in terms of its importance in public health. This is then integrated with specific issues related to mental health, including the primary models of intervention with patients who have SMD. Following a review of the literature which indicates broad agreement that intervention strategies to enhance adherence have been generally unsuccessful, the author outlines both the conceptual and methodological barriers to the success of adherence interventions, which have been the subject of recent research focus in the literature.The author concludes the first section by focusing on the specific role of the MHP in the enhancement of patient adherence, surveying current intervention guidelines addressed to this professional group, based on the evidence. In the second part of the thesis, the author defines a set of objectives to operationalize the research, expressed in the following research questions: Sample I. Patients with SMD: What demographic and/or clinical factors influence treatment adherence in patients with psychiatric disorder? How does the attitudes and beliefs of patients with psychiatric disorder influence treatment adherence? Sample II. MHP: What sociodemographic factors and/or professional attributes influence the attitudes and beliefs of MHP? How does the attitudes and beliefs of the MHP influence treatment adherence for patients? What are the most common strategies for optimal use by MHP to increase treatment adherence? In order to answer these questions, a cross-sectional study was designed, which included both qualitative and quantitative data collection. Two convenience samples were recruited to the study: a patient sample and a professional sample. The patient sample comprised 150 patients with SMD (ICD 10) aged between 18 and 65 years, undergoing treatment in one of the three hospitals selected for the study. Demographic and clinical variables assessed were as follows: a sociodemographic questionnaire developed for this study; the Morisky Medication Adherence Scale (Morisky, Greene Levine, 1986 - Portuguese version by Delgado & Lima 2001); Beliefs About Medicines Questionnaire (Horne, Weinman & Hankins, 1997 Portuguese version by Pereira & Silva, 1999); Brief Psychiatric Rating Scale 4.0. (Ventura, Green, Shaner&Liberman, 1993 - Portuguese version by Gusmão et al., 1996); Illness Perception Questionnaire for Psychosis (Lobban, Barrowclough & Jones, 2005 - Portuguese version by Cardoso, A., 2011). The professional sample comprised 65 MHP involved in providing direct patient care working in one of the three departments of Psychiatry and Mental health of selected hospitals. Demographic and clinical variables assessed were as follows: Elsom Therapeutic Optimism Scale (Byrne, Sullivan & Elsom, 2006); Medication Alliance Beliefs Questionnaire (Byrne et al., 2008); Difficulty Implementing Adherence Strategies (Byrne et al., 2005). The analytical strategy involved the descriptive study and execution of the bivariate correlation analysis (Spearman correlation) and multivariate analysis (multiple regression) for the two samples.